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sábado, 31 de dezembro de 2011

Ano Novo

Último dia do ano. Momento formidável para reflexões. O passado vai ficando no passado e começam a surgir os desejos, sonhos, planos, metas (...) para o ano seguinte. Também é o momento que naturalmente lembramos dos acontecimentos, percebendo que coisas ruins foram superadas e ao mesmo tempo as coisas boas nos deixaram saudade.
 
O que dizer do ano que termina? Será que foi tão ruim quanto várias pessoas disseram? Nunca é bom generalizar, pois certamente haverá quem diga que foi um ano bom. Então, melhor evidenciar ao máximo os bons momentos e enxergar um aprendizado vindo das situações ruins. Esta talvez seja uma das ideias clichês mais válidas.
 
Tenho absoluta certeza que durante o ano você chorou, riu, amou, se apaixonou mesmo que por segundos, levou ou deu um fora, foi a algum lugar nunca ido antes, comeu ou bebeu algo com prazer, dançou sozinho ou acompanhado, cantou para que ouvissem ou cantou para si, escutou uma música mais de uma vez, se desentendeu com alguém, falou mal dos outros, reclamou, teve raiva, teve pena, sentiu dor, conheceu alguém, adoeceu, assistiu algum filme ou vários, dormiu muito ou dormiu pouco, abraçou e foi abraçado, desabafou, mudou alguma coisa no visual, ganhou ou comprou roupas, fez alguma coisa escondido, admirou alguma paisagem, xingou a vida, praguejou o mundo, se arrependeu, errou, foi humano. Coisas de humano, sabe?
 
Neste novo ano você fará basicamente as mesmas coisas, talvez menos ou mais, com mais ou menos intensidade. Se tanta coisa pode mudar em poucos segundos, imagine em um ano inteiro.
 
Então, mesmo que não seja fácil aproveite ao máximo tudo aquilo que te traz felicidade. Agarre as oportunidades! Seja intenso! Não tenha vergonha de sentir! Todo mundo sente. Ame, mas ame muito e sem medo. Se sentir vontade, elogie. Elogios sinceros trazem uma felicidade momentânea. Tente sempre ser simpático, pois simpatia atrai pessoas e te tornam alguém querido. Sorria sempre! O sorriso tem um poder imenso e pouca gente sabe disso. Abrace muito! O abraço conforta, aquece e felicita. Sempre faça amigos e preze por eles! Seja impulsivo de vez em quando! Às vezes por pensar demais deixamos de fazer muito do que gostaríamos. Não apenas deseje, mas faça com que se concretize. Tome banho de chuva. Ligue o som bem alto e dance sozinho ou puxe alguém para dançar com você. Fique bêbado, pelo menos uma vez e tome um porre. Não vai te matar. Se ficar sozinho em casa, ande pelado e sinta-se livre. Quer chorar? Chore! Quer gritar? Grite! Fuja da dieta pela menos um dia. Sinta prazer. Xingue! Xingar de vez quando é libertador. Beije sempre que puder. Faça muito sexo, protegido! Cuide-se mais! Mude o visual! Ame-se! Permita-se! Seja feliz!
 
Depois de todo este “clicheísmo”, Feliz Ano Novo! Que seja um ano melhor em todos os aspectos e que a felicidade seja plena.
 
Agradeço a todos que sempre acompanham e divulgam o blog. Ele não seria nada sem vocês. E que no próximo ano haja mais inspiração e minhas palavras alcancem ainda mais pessoas.
 
Beijos e abraços!

Erick Caldeira

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Elas falam mal!

Um dia cheguei a acreditar que as pessoas que nos amam e que estão ao nosso lado o tempo todo, nunca, mas NUNCA, chegassem a falar mal ou apenas falar da gente pelas costas. Ingenuidade, inocência, burrice, sabe-se lá! As coisas demoraram a ficar evidentes que não eram bem a perfeição que eu acreditava, até que meu mundo desabou por um curto momento. Exagero meu, talvez.

O fato é que elas discutem, sim, a nossa vida, criticam nossos defeitos, reclamam de coisas que fizemos ou deixamos de fazer, nos xingam e assim por diante. E não é falsidade, ódio reprimido ou vontade de nos modificar. Podem até chegar para mostrar os pontos que podemos melhorar, mas há aquilo que realmente não precisa ser verbalizado. Certas coisas não devem ser ditas. Não valem à pena! É possível cuidar de longe e sem demonstrar (o que, muitas vezes, é o melhor a se fazer).

Somos seres humanos imperfeitos, para não dizer cheio de defeitos. E quem nos ama, nos ama do jeito que somos. Isso não significa que amarão cada detalhe, cada mania e cada atitude nossa. Apenas aprenderam a conviver e aceitar toda nossa merda.

Acho que a beleza das relações sociais é esse aprendizado constante do convívio com outras pessoas, ainda que muitas vezes não seja algo fácil. No final, todos juntam os detalhes em comum, fazem uma sopa e curtem os bons momentos. Assim vivemos.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

À mercê do tempo

Derreti-me no seu beijo
Desmontei-me em seu abraço
Adormeci em um cafuné
Fui acordado com uma lambida
Empolguei-me com uma mordida
Apossei-me do seu colo
Perdi-me no seu olhar
Concentrei-me em seu sorriso
Viajei no seu perfume
Esqueci-me do resto
Resto? Que resto?

A hora passou despercebida. Muitas horas.
E você teve que ir embora.
Tempo cruel! Tempo invejoso!

 

“Será que o tempo tem tempo pra amar ou só me quer tão só?” (Móveis Coloniais de Acajú)

sábado, 10 de dezembro de 2011

Lamentos de um não-correspondido


Já vi tanta gente passando por isso... Contudo, bom lembrar que sofrimento também tem fim.



Quisera eu ter toda culpa do mundo pelo que sinto. E no final bastasse ter todo o poder para deixar o sentimento de lado. Pois não o quero! Não queria senti-lo. Mas não é bem assim. É tudo involuntário demais. E posso estar sempre interpretando errado, ou não. Sei lá!

Quando meus olhos encontram os seus parece que uma ligação magnética acontece instantaneamente. Há um brilho diferente, um sentimento que parece ficar sempre reprimido de ambos os lados. E eu não quero mais olhar nos seus olhos. Tenho medo. Não quero te abraçar, porque seu cheiro me faz querer abraçar mais forte e querer ficar deitado no seu ombro. Não quero conversar com você, pois sei que o nosso papo combina tanto que ficaríamos horas conversando e depois eu sairia com a dor da saudade.

Eu não te tenho mais ao meu alcance do jeito que eu gostaria e sei que não devo tentar te alcançar nunca mais. Seria absurdo e errado depois de ter aceitado o fim e ficado calado no meu mundo. E mais errado ainda pelos acontecimentos posteriores. Mas que culpa eu tenho de estar assim? Eu não decidi nada. Tive que aceitar calado e concordar, porque reciprocidade não se cobra.

E talvez o motivo dessa coisa chata e demorada seja porque eu nunca entendi bem o que realmente aconteceu. Já me culpei de todas as maneiras tentando encontrar o motivo certo e ao mesmo tempo inventei na minha cabeça histórias absurdas sobre você para tentar te odiar. Porém minha admiração não mudou.

E você quis continuar parte da minha vida, mas não podia ser. Ainda não pode. Quem sabe um dia.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Mundo intocável

Por mais que haja convivência e por mais transparente que uma pessoa seja, nunca será possível conhece-la em sua totalidade. Sob a superfície de cada um, existe um mundo intocável, inalcançável.

Saber tudo sobre alguém por meio de poucas horas por dia ou mesmo convivendo mais que diariamente é impossível. Nem sobre nossos pais chegamos a ter conhecimento de tudo.

‘Tudo’ é realmente coisa demais. Apenas a própria pessoa tem ciência absoluta sobre sua vida. A vida particular da cada um vai muito além dos olhos alheios, das emoções demonstradas e das ações. Todos têm pensamentos, segredos, sonhos, memórias e desejos nunca revelados, por mais que vivam contando muitos detalhes da própria vida.

Jogando o assunto para outro lado da história, fico observando como as pessoas são diferentes em todos os sentidos possíveis. Para uma mesma situação pode haver milhões de comportamentos/reações e, ainda que a criação tenha sido basicamente a mesma, não existem atitudes exatamente iguais. Pessoas que, por exemplo, procuram o tempo todo satisfazer os próprios desejos, mas vivem atentas a não prejudicar ninguém e de outro lado aquelas que não têm a mínima preocupação se o outro está sofrendo. Ironicamente engraçado como pode ser a cabeça do ser humano.

Li, certa vez, que ninguém é totalmente bom ou totalmente ruim. Gosto de acreditar nisso, porém o equilíbrio desse conceito não foi tão bem elaborado. Sempre me pergunto até onde devam ir as boas ações de uma pessoa. Enquanto alguns sofrem com a intensidade da própria empatia, há quem derruba os outros como se fossem meras peças de xadrez.

Psicólogos, psiquiatras e estudiosos da mente humana podem até analisar e procurar teorias que se adequem melhor ao porquê das ações individuais, mas ninguém ainda descobriu como ler o pensamento de uma pessoa. E o fato é que lá no âmago do ser sempre existem coisas nunca libertas e que provavelmente nunca serão. E que talvez seja até melhor nunca serem.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Encontrar alguém


Repentinamente, em um dia em que não se espera nada, você encontra alguém legal e começa a se relacionar. Depois de certo tempo tudo que você deseja é se dedicar à outra pessoa, querer perder um pouco do individualismo e passar a viver o conjunto. Relacionar-se, namorar, casar, juntar as panelas... Verbos que, pelo o que é observável do mundo ao redor, são a reunião de diversas ações. Para todos eles:

É o adaptar-se aos horários um do outro e administrar o próprio tempo para conseguirem fazer o máximo de coisas possíveis como casal. É curtir a felicidade que acontece dos encontros e sentir saudade o tempo todo, apenas pelo fato de não estarem próximos. Abusar do sexo e tornare.-se cada vez melhores por conta da intimidade construída e por passar a conhecer cada ponto, o quão minúsculo for, e o que mais satisfaz. É falar com voz de criança e voz manhosa parecendo bobo, mas sendo interpretado como fofo. Tornarem-se beijoqueiros e viciados em abraço. É o ser romântico, elogiar e declararem-se sem motivo. Fazer qualquer coisa para agradar. É o apaixonar-se por todos os detalhes físicos, mesmo os feios e no meio de pessoas ainda mais belas que vocês, considerarem-se os mais bonitos do mundo. Preocuparem-se um com o outro pelo risco mais idiota e querer cuidar e cuidar. Descobrir gradativamente os defeitos de ambos e aprender a conviver com eles sem discussões. É se desentenderem em um momento e no outro agarrarem-se sem a mínima vergonha e pudor. É observarem-se nos momentos silenciosos e sorrirem, com aquele sorriso mais feliz, apenas porque se entreolharam. É conhecer o gosto um do outro e compartilhar as coisas que aos dois agradam. Sair juntos, sair separados e ficarem ansiosos para se reencontrarem. É fazer programa de casal e fazer programas com casais. Rir, chorar, se divertir. Arriscar um "eu te amo" e não ouvir de volta naquele momento, mas ser surpreendido com a reciprocidade e ser amado na hora certa. É planejar momentos futuros e sonhar momentos quase impossíveis, ainda que nunca se realizem...

Ações quase que infinitas e sempre cheias de significado. Quando existem a tal reciprocidade e disposição das partes as coisas vão acontecendo naturalmente e uma pontinha de felicidade fica gigante. Tudo que acontece acaba sendo bastante significativo. Só quem vive sabe a sensação, mas quem observa também pode admirar, pois é algo admirável, com certeza! Só não vale forçar demais para que aconteça ou iniciar um relacionamento apenas para mostrar que o tem. Alguém sempre sai machucado nessas histórias. Quando é pra ser, tudo acontece naturalmente e progride só com a convivência.


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Pagar pra ver

Medos, incertezas, inseguranças, paranoias, baixa autoestima... O cérebro humano é realmente uma caixinha de surpresas sempre pronto a pregar peças e fazer com que cada pessoa acabe complicando a própria vida em algum momento.

Vejo sempre acontecer por aí e já me peguei passando pela mesma situação tantas vezes. Você está ali muito bem em uma situação, curtindo um momento ótimo e de repente surge um pensamento, sabe-se lá de onde, e começa a tomar conta da sua cabeça. Você o ignora por algumas vezes, mas acaba se entregando àquelas ideias idiotas. E provavelmente por uma parte vinda do seu subconsciente que não conseguiu acreditar que o seu momento era realmente bom. Uma mania inconsciente de se boicotar, quase que geral. Conseguimos, no final, discussões infundadas, brigas, desistência. Quando tudo poderia ter continuado muito bem ou ter sido ainda melhor.

Destino é uma palavra muito vaga, principalmente quando é pelas próprias atitudes que destruímos o lindo castelo que já havia sido construído. As influências externas também tem seu peso, mas acredito que estas sejam mais fáceis de recusar do que as próprias palavras dentro da cabeça. Por exemplo, alguém te fala que sua situação, seja ela qual for, não vai dar certo. Você, obviamente, fica com aquilo martelando, porém é também você quem decide se vai continuar pagando para ver.

“Pagar pra ver”. Está aí uma ação que eu gosto de admirar. Metaforicamente falando, penso que nem todas as linhas serão sempre retas porque alguém, no passado, disse que seriam. Elas podem se entortar pelo caminho e nem por isso perderem suas boas características. Desistir de seguir em frente por medo de como pode ser é uma grande besteira. Pague pra ver! A vida já é sozinha um risco enorme. Só por estarmos vivendo já temos a possibilidade de morrermos a qualquer hora. E muitas das coisas que fazemos e dão errado no final não chegam sequer a beirar a morte. Sofrimento é algo que caminha ao nosso lado o tempo todo, desde que nascemos, pois ninguém é feliz “25 horas” por dia. O ser humano vive superando as perdas e as tristezas. E é bom lembrar que viemos ao mundo com uma capacidade enorme de adaptação e superação.

Eu costumava ouvir muito o pessimismo das pessoas. Hoje em dia quando alguém já diz que algo que faço não vai dar certo eu só tenho vontade de dizer: “Vou pagar pra ver mesmo assim!” Se não der certo eu me recupero, mesmo que demore e mesmo que eu encha a paciência de todo mundo ao meu redor. Eu sempre me recuperei até hoje e sempre aprendi também. Pois pague pra ver!

domingo, 13 de novembro de 2011

Vontades loucas

Desde pequenos somos obrigados a aprender o que é certo ou errado. Ou aprendemos sozinhos ao observar as outras pessoas, ou quando somos corrigidos por alguém depois de cometermos um erro. Gradativamente crescemos nos moldando às regras da sociedade, às regras familiares, às regras das religiões, às regras gerais.

Um dia, sem que ninguém espere, aparece um louco e satisfaz publicamente uma vontade, ou loucura, como provavelmente é considerada. Alguém que escalou um monumento histórico, pulou de paraquedas do prédio mais alto da cidade ou simplesmente foi ao supermercado de pijamas. Loucos ou corajosos, ganharam o seu carimbo. A sociedade dita suas regras e somos sempre condicionados a viver reprimindo muitas vontades para evitar retaliações e julgamentos. Vários “padrões”, hora ou outra, acabam sendo derrubados pelas revoluções e mudanças de comportamento.

Acredito que mantemos sempre, lá no fundo, aquela vontade de realizar publicamente uma loucurazinha qualquer. E talvez nem sejam realmente loucuras. Talvez sejam apenas vontades estranhas, incomuns, por serem coisas que não temos o costume de ver. A música “Quatro vezes você” do Capital Inicial fala:

“O que você faz quando
Ninguém te vê fazendo?
Ou que você queria fazer
Se ninguém pudesse te ver?”

Muitas destas coisas acabamos realmente por fazer enquanto ninguém vê. Por exemplo: tirar meleca do nariz, peidar para fazer barulho, arrotar alto, fazer careta no espelho, dançar de forma bem louca, brincar com o cabelo, fazer um controle remoto de microfone e sair cantando, andar pelado em casa e assim por diante. Porém também existem as vontades de agirmos de forma diferente meio aos olhos alheios. Correr pelado em via pública (um dia farei isso!), nadar em alguma fonte, gritar no meio de um shopping, abraçar um desconhecido, sair pulando de mãos dadas com alguém... A polícia está aí para reprimir muitas delas, porém quem um dia satisfaz alguma, experimenta uma sensação de liberdade bem divertida.

O post não é para incentivar ninguém a sair por aí quebrando regras e fazendo coisas incomuns. Apenas quis falar sobre essas vontades loucas que todos temos e que dificilmente satisfazemos. Contudo, certamente o mundo um dia gira e o que era loucura se torna algo normal. Já vi acontecer e mais de uma vez. É só pagar para ver.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Amizade profunda

Uma relação de amizade não surge assim do nada. Pode até haver aquela paixão fraterna à primeira vista, como muito acontece, mas nunca algo já completo que resolveu surgir. Ou nunca alguém rotulado como melhor amigo por uma única noite de presença. Uma amizade profunda é uma construção contínua, que leva dias e possivelmente anos e anos.

À medida que o tempo caminha, em sua vagareza ou rapidez, dependendo do referencial, os detalhes vão surgindo, agradando ou não. Da superfície ao interior, camadas e camadas são ultrapassadas com a convivência e eis que surge a tal intimidade (ver post antigo sobre intimidade). Antes, pessoas quaisquer, homem ou mulher, humanos no sentido mais genérico. Depois, pessoas únicas, com caraterísticas próprias, com qualidades marcantes. Em um dia, um ninguém, no outro, talvez, uma das pessoas mais importantes da sua vida. Alguém que entrou de cabeça na sua existência e foi ganhando importância com as conversas diárias, as saídas, os choros, as alegrias...

Um dia qualquer, após alguns anos, você senta, olha aquelas pessoas ao seu redor e tenta estimar, sem sucesso no somatório, o quão queridas elas são. Vai e repara o quanto você as conhece e as aceita do jeitinho que são. O quanto você tem vontade de fazer qualquer coisa por elas. E o quanto as defenderia com unhas e dentes, caso precisasse. Em um mundo cheio de gente com as quais você depara a todo tempo, você percebe que aquelas poucas ali são as mais conhecidas e mais necessárias. As que você mais quer por perto.

E um trecho do livro “O Pequeno Príncipe” que completa totalmente as palavras acima:

- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.

O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...

A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:

- Por favor... cativa-me! disse ela.

- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.

- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!

- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.

- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...

No dia seguinte o principezinho voltou.

- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.

- Que é um rito? perguntou o principezinho.

- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!

Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:

- Ah! Eu vou chorar.

- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...

- Quis, disse a raposa.

- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.

- Vou, disse a raposa.

- Então, não sais lucrando nada!

- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.

Depois ela acrescentou:

- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.

Foi o principezinho rever as rosas:

- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela á agora única no mundo.

E as rosas estavam desapontadas.

- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.

E voltou, então, à raposa:

- Adeus, disse ele...

- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.

- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.

- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...

- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Felicidade Realista (Citação)

 
Gosto muito do texto abaixo. Não compartilhá-lo seria egoísmo da minha parte.
 
A vida de todo mundo é assim, cheia de coisas boas e ruins o tempo todo. Não há escapatórias. Pelo menos eu nunca vi alguém que fosse 100% contente e satisfeito com tudo. Nossa necessidade de desejar coisas novas é algo constante. Por mais que satisfaçamos vontades, sempre vai faltar algo. O texto fala da felicidade de uma forma simples, que quase sempre deixamos escapar por queremos coisas que vão além da simplicidade. Vale à pena a leitura!
 
 

Felicidade Realista
(Mario Quintana)
 
A princípio bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos. Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis. Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num SPA cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar a luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito. É o que dá ver tanta televisão. Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Ter um parceiro constante pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio. Dinheiro é uma benção. Quem tem precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade. Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar! É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz, mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Construção

Começamos uma amizade porque normalmente é assim no início, mas confesso que meu interesse sempre fora outro. Claramente meu olhar e meu tratamento sempre tiveram um carinho a mais, ainda que eu nada falasse. (Meu olhar sempre me entregou na vida. Era só parar e interpretá-lo.) Por causa dos amigos que tínhamos em comum, hora ou outra nos encontrávamos. Era sempre muito agradável, mas eu queria mais. Precisava satisfazer aquela vontade que ia além de amizade, mesmo sem pretensões de coisas sérias. Juntei toda coragem possível, acrescentei um pouco de álcool e fui arriscar um papo com segundas, terceiras e até quartas intenções. Levei um “fora”, o que eu instintivamente já esperava. Não me abalei. Lamentei por alguns dias e fiquei bem. Seguimos com a vida e com a amizade, como devia ser. E um adicional de proximidade surgiu e começamos a sair juntos quase sempre. Tínhamos muita coisa em comum e isso ajudava bastante no crescente número de encontros e programas realizados juntos. Algum tempo se passou.

(...)

Em um dia de festa, bebemos bastante, dançamos como loucos e para minha surpresa percebi um olhar diferente vindo em minha direção. Tinha certeza que aquilo não vinha da nossa amizade. Não podia. Havia um brilho a mais, mas como o “fora” anterior ainda mantinha-se na minha memória, não perguntei e nada fiz. E se assim fosse, eu não era mais responsável por iniciativa alguma. A noite chegou ao fim e fomos para casa, separadamente. Enquanto dirigia curtindo minhas músicas de pensar na vida, escuto o toque de mensagem no celular.

“À primeira vista realmente não houve interesse. Amizade era a única coisa possível e eu dispensei você. Contudo nossa convivência manifestou características suas que me conquistaram profundamente. Algo despertou. Quero você!”

Meu Deus, eu realmente tinha lido aquilo? Eu quis tanto a correspondência de interesses e tive que aceitar o não. Após aquele “toco” me obriguei a conformar com apenas a amizade. Por várias vezes foi estranho ver beijos alheios em nossas saídas e depois de ter aceitado sermos apenas amigos recebo esta mensagem? Não! Eu ainda tinha certo interesse, mas agora também havia orgulho. Parei o carro no acostamento e comecei a divagar. Lembrei-me das pessoas sempre dizerem que perderam ótimas oportunidades por orgulho e similaridades. E de fato eu não tinha nada a perder, apenas ganhar. Eu havia conquistado alguém que eu já tivera interesse. E isso era bom. Calei meus pensamentos e respondi a mensagem:

“Não entre em casa! Espere no carro. Estou chegando agora onde você está.”

Foi algo intenso e totalmente compatível. Melhor do que eu já cheguei a imaginar. E como era bom sentir uma correspondência, uma reciprocidade, ainda que existisse uma insegurança do que acontecia ali naquele momento. Contudo, eu não ia fugir e muito menos cobrar alguma coisa. A vida já tinha me ensinado o bastante para saber que expectativas demais estragam qualquer coisa. Eu iria curtir aquilo e tudo que viesse até não poder mais. Foda-se o futuro seja ele como fosse! Questionei-me algumas vezes sobre o tempo certo para as coisas acontecerem, mas de que isso importava? Era apenas uma curiosidade sobre coisas da vida, ainda que fosse óbvio que a vida nunca segue uma linha reta. De qualquer forma, a parte melhor já estava acontecendo. Estávamos juntos.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

E assim foi…

Ele está muito bem.
Ciente da perda, contente, porém.
Cansou de seus tormentos.
Cessou os seus lamentos.
Fez bem.

O chamaram de pobre de inteligência.
O acusavam de extrema carência.
E empurravam-no para o fundo do poço.
Eram críticas demais sobre o moço.

Ele não era culpado.
Tudo sempre fora bem racionado.
Só que dos sentimentos quem entendia?
Coisa chata, cheia de psicologia!

Ele queria qualquer verdade.
Aceitar mentiras era imaturidade.
Mas viver mentiras era muito pior.
E ele sabia que realismo era melhor.

Correspondido nunca foi fácil ser.
Diante do livre-arbítrio é conformar ou sofrer.
Pois reciprocidade não se subestima.
Ainda que o amor de si se aproxima.

Ele seguiu a vida conformado.
De que a vida não funciona como programado.
Ficou bem, pois dos problemas esqueceu.
E o sentimento involuntário, finalmente morreu.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Desvendando o cutucar do Facebook

Eu cutuco, tu cutucas, ele cutuca, nós cutucamos, vós cutucais, eles cutucam. O verbo pode ser conjugado em todas as pessoas e o resultado é uma cutucação sem fim. Mas afinal, para que servem as cutucadas do Facebook?
 
Poke, no inglês. No português, a palavra de acordo com o dicionário:
(tupi kutúka+ar2) vtd 1 Tocar alguém com o cotovelo, dedo, pé etc., para fazer uma advertência ou por acinte. 2 Dar cutilada leve: O carreiro cutucava os bois. Var: catucar; no Nordeste: fatucar.
No mundo real acho que ninguém gosta de ser cutucado. Imagina você conversando com alguém e a pessoa toda hora batendo o dedo em você. Um tanto irritante, não? No mundo virtual o gosto pela cutucada varia junto com as interpretações sobre ela. É bem relativo e, como algo meio indireto, o real motivo do cutucante só é desvendado quando ele próprio explica o porquê, o que nunca acontece. Sendo assim, todos acabam criando a própria história.
Respostas que consegui perguntando a opinião dos meus amigos no facebook:
    • “Se for amigo é pra te irritar. Se não for, está querendo ser.”
    • “Se for bonito, me quer. Se for feio, quer dar oi.”
    • “Tentativa de romance.”
    • “Te cutuco, logo estou te dando mole.”
    • “Interpreto como se chamasse a minha atenção, mas vai muito da intimidade que tenho com a pessoa.”
    • “Pessoas que não atraem são ignoradas, pessoas interessantes geralmente adicionadas.”
    • “Está querendo o meu corpo.”
    • “Responder cutucada de desconhecidos é "pode vir, também gostei.""
    • Quando é alguém que você já viu na balada ou foi apresentado rapidamente, acho que funciona como um ‘oi! Lembra-se de mim? Disposto a continuar o papo?'”
Pelas respostas, é possível bolar uma quase interpretação oficial. Então, inicialmente a cutucada dos desconhecidos funciona como um primeiro contato. Um “oi” perdido no silencio do botão. Achei tal pessoa interessante e gostaria de conhecê-la e tentar uma amizade. Ou achei a pessoa bonita, fiquei “a fim” e quero tentar uma aproximação.
 
Quando a cutucada parte de um amigo, este estaria tentando te lembrar de sua existência ou, em boa parte dos casos, usou o botão na falta do que fazer (MUITOS fazem isso). No final, todos os cutucadores acabam cansando, pois a ação nunca tem fim.
 
E realmente, generalizando, se o(a) desconhecido(a) é bonito(a), cutuca-se de volta e dá espaço para adicionar como amigo ou puxar papo. No caso da pessoa ser feia certamente será ignorada.
 
Logo, cutucar desconhecidos é um tiro no escuro e se você não foi cutucado de volta, subtende-se que levou um “fora”. Felizmente (ou não!) vai sempre existir aqueles que adicionam e aceitam qualquer pedido de amizade, ainda que não mantenham contato posterior. E acabo voltando para o antigo assunto do post “Pelas redes sociais”.
 
Os vídeos abaixo completam um pouco mais o post:
 
Um exemplo do que as pessoas pensam sobre cutucar.
 
Continuação
 
Se houver mais interpretações, comente!

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Sexo e o futuro

É engraçado como alguns assuntos acabam criando certa polêmica facilmente. Dessa vez pelo seguinte questionamento: Será que no futuro as pessoas irão rejeitar a vida a dois querendo ter alguém apenas para sexo?

Há pouco mais de 15 anos lembro que minha bisavó sempre contava histórias de como eram os casais de antigamente, daquela coisa meio contratual em que os sentimentos inicialmente não eram tão levados em consideração e o amor nascia da convivência a dois. As mulheres eram criadas e cresciam com a ideia de que a submissão era o mais correto. Sexo para elas era apenas para procriação e seus maridos, quase sempre, tinham outras mulheres para puro prazer. Era tudo um conceito fechado e ninguém podia contestar. Os homens tinham uma liberdade sexual maior ainda que, na maioria das vezes, fossem obrigados a conter seus instintos apenas por uma imagem pública e para seguirem as condutas sociais existentes. Minha avó, por sua vez, contava histórias um pouco mais românticas e histórias bonitas, contudo o sexo também sempre fora tabu para as mulheres de sua época.

Atualmente a “história sexual” é bem diferente. Seria por conta de uma nova revolução de valores éticos e morais? Sexo tornou-se um assunto comum e não mais tratado apenas nas entrelinhas e conversas mais reservadas. Não é mais abordado por apenas um gênero. É fácil ouvir ambos, homens e mulheres, conversando sobre isso abertamente não apenas como parte dos relacionamentos, mas também como algo casual. É perceptível como o mundo assumiu finalmente o ato sexual como satisfação de uma necessidade fisiológica. A ‘contenção dos próprios instintos como consequência da repressão da sociedade’ está se tornando algo démodé. E vejo que a tendência do assunto sexo é estar sempre mais a frente dos holofotes e ser tratado ainda com mais naturalidade. Coisa das “evoluções”.

Juntando a ideia da crescente individualização/independência das pessoas no meio social e a menor cobrança sobre os valores éticos e morais, penso que talvez a preocupação das pessoas em conter os próprios instintos seja zero no futuro. Menos cobranças sociais resultando em mais liberdade de atos antes reprimidos. Sexo entre amigos, sexo entre desconhecidos, sexo pago, sexo vendido, sexo por sexo. “Quero sexo agora e só sexo. Vou ali me satisfazer com quem também quer o mesmo.” Todos correndo atrás da praticidade.

Sem levar em consideração pessimismo ou realismo, fiz o questionamento do início baseado em observações do que basicamente acontece ao meu redor. Uma pergunta inserida na generalização, sem apontar as exceções que sempre acabam existindo. Referente ao que imagino acontecer no futuro, posso estar errado ou posso estar certo. Posso estar certo e errado. Enfim. Se hoje já é algo tão visível e a rapidez com que a cabeça das pessoas evolui junto ao mundo e junto às ideias revolucionárias, inevitavelmente vejo o futuro sem muitos casais, mas com vários parceiros sexuais. Sem romances calorosos ou paixões duradouras. Ainda que eu mesmo queira sempre me preservar como parte da exceção.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Clichê



Sentei em uma cadeira imaginária.
Fiz-me invisível e imperceptível.
Tentando me tornar algo como um fantasma.
Viajei pelo mundo infinito dos pensamentos.
Viajei pelas vidas que não eram minhas.
Saí colhendo as informações disponíveis.
Juntando histórias e explicações para coisas simples.
Queria saciar a minha vontade de ser clichê.
Queria uma fuga sonhadora e louca da realidade.
Queria um motivo para nada.
E queria me perder temporariamente nas coisas boas que ninguém nota.
Deparei-me, acidentalmente, com um mundo cheio de cores e sons.
Encontrei a bem escondida igualdade das pessoas.
Reparei com atenção nos olhares que eram mais sinceros que palavras.
Vi abraços carinhosos e sorrisos verdadeiros.
Vi a lua gigante.
Senti o vento e um cheiro bom e desconhecido.
E parei para ouvir o barulho calmante da chuva.
Todo o resto não tinha mais importância alguma.
Enxerguei coisas que ninguém enxerga por falta de interesse.
Tive ótimas sensações apenas por permitir tê-las.
Concluí que ser clichê de vez em quando é bom.
E voltei à realidade. Mas tudo aquilo também não era real?
Dúvida pertinente.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Desligamento digital

Santiago estava completamente inserido naquele mundo tecnológico. Mas claro, já nasceu como parte do mundo globalizado. Nasceu praticamente programado a saber utilizar um computador ou em segundos aprender a usar qualquer coisa digital que existisse. Seus pais e todos os mais velhos não eram capazes de absorver conhecimento tecnológico com tanta rapidez e ficavam perplexos em como a geração posterior a deles era totalmente mais evoluída intelectualmente. Para todas as pessoas mais velhas era como se todas as gerações anteriores a de Santiago já tivessem sido excluídas há tempos. Tudo parecia mais fácil naquele mundo novo, para aquelas pessoas novas. E Santiago sabia exatamente como viver ali, principalmente pelo explícito e nada contido amor pelas tecnologias.

Ele tinha smartphone, laptop, Ipod, tablet, câmera digital e se pudesse e tivesse dinheiro suficiente, teria tudo que lhe fizesse brilhar os olhos. E como existiam coisas além do que já possuía. Sua vida era organizada e conectada diretamente ao mundo virtual e, por conta desse detalhe, virtualmente ele estava com as suas pessoas durante vinte e quatro horas. Era um vício constante e tudo incrivelmente muito bom até o dia em que ele percebeu que seus momentos sozinho começavam a ficar cada vez mais escassos. Ligações no celular, mensagem de texto, notificações das redes sociais, notificações de outros serviços a qualquer hora. Nada do mundo virtual e nenhum eletrônico paravam para descanso. Santiago começou a sentir necessidade de desligar-se um pouco e se não o fizesse poderia ter um surto de grosseria generalizada.

fuga

Ele queria pensar, refletir e não ter assuntos de outras pessoas para resolver. Escolheu um dia qualquer e sem avisar ninguém desligou tudo que pudesse localizá-lo de alguma forma. Largou o celular em casa, pegou o carro e foi dirigir sem rumo. Percorreu mais de duzentos quilômetros apenas na companhia de suas boas músicas, parando de vez em quando para observar as coisas ao redor. E se esforçou ao máximo para não pensar e não se preocupar com a inquietação que causaria nas pessoas de sua vida. Que o mundo e todo o resto fossem temporariamente esquecidos! Objetivo alcançado. Finalmente ele havia conseguido ter a quase esquecida sensação de liberdade e como era boa. Curtiu tudo aquilo por quase dez horas e se sentiu renovado. Já podia voltar à realidade. E voltou.

De volta em casa era inevitável que religasse todos os seus eletrônicos e retomasse sua conexão com a virtualidade. Aquela era a sua vida, por menos privada que fosse. Imediatamente após apertar o botão de ligar do seu smartphone recomeçaram todas as notificações e mensagens, mas ele não estava mais à beira de um ataque. Não queria mais explodir com ninguém. Havia voltado a amar a tecnologia e tudo podia voltar a ser normal. Contudo havia uma diferença no cunho de algumas mensagens e certamente era algo já esperado. Ele deixou muita gente preocupada com seu sumiço e a quantidade de mensagens havia aumentado exponencialmente. Já estavam inclusive ameaçando anunciar oficialmente o seu desaparecimento e começarem as buscas. Após conseguir ler boa parte do que chegara, ele começou a dar notícias novamente. No fundo, estava achando tudo bastante cômico. Exagero das pessoas era só o que ele pensava.

Santiago tinha em mente que ninguém de sua geração escaparia nunca mais daquela tecnologia evolutiva e emergente. O futuro provavelmente seria ainda pior, ou melhor. Porém ele havia encontrado uma maneira de forçar uma pausa brusca daquela loucura que usualmente amava: bastava desligar tudo e fugir para qualquer lugar. Ele adotaria esse comportamento sempre que possível.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Risadas Virtuais

 
 
Dias atrás estava conversando com uns amigos sobre os tipos de risadas usadas na internet. Fomos listando e explicando quando usamos cada uma delas. Conversa um tanto hilária.
 
No meu caso, não diversifico demais e uso apenas cinco tipos delas e das seguintes maneiras:
 
  • Hahahaha: Para coisas engraçadas, mas de leve.
  • Hehehehe: Praticamente a mesma coisa dohahahaha, mas com um pouco mais de malícia.
  • Kkkkkkkkk: Para algo bastante engraçado. Como sefosse uma risada alta.
  • Huahuahau: Risada irônica/sarcástica. Paraaqueles momentos em que você ri sem querer rir. Uma piada de mal gosto, umasituação em que você fica sem graça, por terem te “zoado” e por aí vai.
  • Rs: A mais simplória. Uso quando estou compreguiça das outras ou apenas para quebrar a seriedade de alguma coisa dita.

O legal é perceber que é algo feito inconscientemente e que cada um dá um propósito diferente às próprias risadas. Você não pega um dia para definir quais tipos usar. É completamente automático e quando percebe tem seu jeito particular de rir virtualmente. Pare e preste atenção!
 
Um amigo compartilhou um link com as risadas abaixo. Várias delas eu nunca vi e confesso não saber o significado de vários termos. Será que alguém usa mesmo? De qualquer forma é interessante passar o olho:
Emo: "KkkKkKkKkKKKKKKkkkKKKKKkkkKkk..."
Lol: "lol"
Noob lol:"loooooooooooooooooooooooooooooooooooooool"
Otaku: "Kukukukukukuku"
Nerd viciado em fóruns: "...risoletes..."
Retardado: "Uhuhuhuhuhuhuhuhuhuhuhu..."
Engasgado com Fandangos:"askaoskaoskpaskpakspopoaks"
Gay: "aiaiaiaiuiuiuaiaiiaiauiiuiaiaiai"
Tarado: "HOHOHOHO..."
Zina: "Ronaldo...."
Gargalhada: "HÁ! HÁ! HÁ! HÁ! HÁ! HÁ! HÁ!!!"
Risada diabólica: "Mwhahahahahahahahahah!!!
Chiada: "auehushauehushauehsuhs"
Risada molhada: "HUÁHUÁHUÁHUÁHUÁHUÁ"
Risada latido: "auauauauauauauauauauau"
Risada latida nerd:"ahuahuahuahuahuahuahuahuahuhhhh"
Risada de fazendeiro: "Xuxuxuxuxuxuxuxuxu"
Furry: "Yffyfffyfffyffyyffyff!"
Maggot: "Hahahahahaslipknothahahaha"
Frívolo: "ahsuhaiskdjlskck211233alkdnsbd133AAActrl+al+delahajkkk"
Baratão: "Ê, ê, ê, ê, ê, ê..."
Fudêncio: "Mimimi."
Chuck Norris: "Mwhahahavoutematarhahahaha"
Goiaba: hoieaheoiehaeioha (risada normal)
Goiaba: HieohEOIheoiheOIHE (risada média)
Goiaba: HIOEHAOIHAIOEHAEOIAH (Puta duma risada)
Engasgado: absaguausguasguasugauguas
Risada Binária(matrix):óiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Risada Binária 2: é uma cilada Bino
Bebê:asnmbcanmcbxzmnebaseiasyeuiasbcnmzbcsáls´daslcas´lcx´vcbcvãvcxvnbxc
Loser: FSDKLFSDMLMFDSLKMFDSDFSLKÇMLDFKÇFDSK
Colombiano: Hí-hí-hí-hí!!!
Aleijado:"Hahahahaaiaihaiai"
Mexicano: "jajajajajajajajajajaja"
Saga de Gêmeos: "HIHIHIHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA"
Risada de quem tem tico no bolso:"ASOKASOKASOKASOKASOK"
Risada do Elcadia: "SDÇLKDSÇLKSDÇLKSDLÇK"
Risada da Dona Neves: tché tché tché!!!
Silvio Santos: Há! haí!!
Sua tia: RSRSRS!

FONTE: http://desciclopedia.org/wiki/Tipos_de_Risada 
E você, como usa as risadas "internéticas"?

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Confissão de um bêbado por conveniência

Bebi meia garrafa de vodka. Boa parte pura, apenas com gelo. A intenção não era ficar bêbado e sim buscar alguma parte do meu ser que fosse extremamente emocional. Disseram que poderia funcionar. (Lembrando que não é conselho de mãe!) Eu estava ansiando por um momento de divagações profundas. Queria soltar o que estava preso por cordas invisíveis, lá no fundo do ser, onde não dava pra tirar com a mão. Não queria despejar tudo no ouvido de algum amigo. Já havia o feito e não adiantou muita coisa. Além disso, as pessoas se cansam desse tipo de ladainha. (Eu sei, pois também acabo me cansando na situação inversa.) O fato é que acumulei sentimentos demais e a maioria sem a intenção, sem ter pedido por eles. Dei-me conta de tal façanha, inconscientemente, um dia desses em que você não faz nada além de pensar e no final percebe-se incomodado com algo. Eram sentimentos autossuficientes, que se nutriram sem ajuda externa. Foram bastante agradáveis e confortantes no início. Motivavam-me a procurar as melhores atitudes sempre. Contudo, após algum tempo, tornaram-se incômodos. As atitudes não eram mais convenientes e os sentimentos tiveram que ser reprimidos. Pensando melhor, as atitudes nunca foram convenientes, mas eram na minha cabeça, porque meu ego ficou inflado demais com um pouco de atenção ganha. O ego é bem assim, cheio de si. Você vai e torna-se espontâneo além da conta e fica querendo agradar quando devia ficar na sua. Bonito, não? Enfim, o álcool virou remédio, ainda que seja feio admitir. Mas danem-se as opiniões alheias! Já vi muita gente apelando para ele e era justo eu também tentar. Fui lá e entornei a minha vodka, coloquei para tocar aquelas músicas mais tristes e “morrânticas” e fui forçar um choro, daqueles de ficar soluçando. E meu apelo etílico acabou funcionando. Foram horas de lágrimas, xingamentos e lamentos até que consegui cansar meu lado emocional. Felizmente! Foi como fazer xixi depois de ter ficado extremamente apertado por ter bebido muita cerveja. Libertador. Passados alguns dias, reparei que meus lamentos diminuíram drasticamente. Era óbvio que seria impossível cessá-los por completo, mas a parte mais chata do que estava reprimido havia se esvaído com a vodka, com as lágrimas e com o xixi. A ressaca do outro dia também acabou sendo de extrema utilidade, uma vez que roubou quase toda a minha atenção e disposição para fazer qualquer outra coisa. Assim, após tal loucura bem sucedida, preciso dizer que não sei se é algo que funciona para todos, mas que um dia quase todo mundo acaba tentando afogar as mágoas e incertezas assim. E se não funciona, pelo menos ensina alguma coisa.

P.S.: Caso resolva tentar, tente sozinho e em casa. Não vá dirigir! E fique longe do celular e das redes sociais!

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Mundo errado

O mundo está de cabeça para baixo.
Não há mais gentileza.
Não há mais sensibilidade.
Piadas têm a intenção de ferir.
O céu não é mais tão azul.
O verde está sumindo.
Sorrisos gratuitos são vendidos.
Pessoas matam por futilidades.
Roubaram a inocência dos inocentes.
Crianças furtam, brigam e só não assassinam por falta de força.
A corrupção contaminou até os defensores.
Competição é mais importante que a vida.
Familiares se odeiam.
Os casais não se respeitam.
Traição tornou-se comum.
As pessoas não se importam mais umas com as outras.
Tentam sempre acabar o romantismo.
E tentam sempre mudar o significado da palavra amor.

Tenho certeza que nasci no mundo errado.
Mas temos chance! Vamos fugir?
Criaremos o nosso mundo.
Aprenderemos a fazer fotossíntese.
Viveremos de amor, luz e água.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Pelas redes sociais

“Por mais que eu tente, não consigo entender alguns pedidos de amizade por aqui. A pessoa não fala nem "Oi" pessoalmente.” Há um tempinho escrevi isto no Facebook e como consequência ganhei uma discussão bastante interessante e me senti na obrigação de escrever sobre.
Algumas das respostas à frase:
  • Mas esse hábito é muito comum em Brasília inteira.
  • É um modo de começar a dizer oi também...
  • Entenda que é mais fácil manter relacionamentos virtuais hoje em dia!
  • Exatamente! Chegou ao ponto que me deixa indignada
  • Disse tudo. Já ia comentar que na sociedade atual em que vivemos, com as futilidades que emergem a cada minuto, se torna mais fácil manter relações virtuais, com pouco ou nenhum contato... É triste, mas compreensivo...
  • Daqui uns dias a internet será tão necessária como água e energia elétrica. Na verdade, as pessoas que só conseguem conversar e se abrir via internet não estão sendo covardes ou desonestas. Elas estão sendo elas mesmas com a ajuda do pc. Sou total a favor de o mundo virtual influenciar a vida real. Ambas são vividas por nós, são construídas por nós.
As respostas que recebi abrem ganchos para diversos questionamentos sobre as relações sociais e a internet. Tentando focar um ponto eu pergunto: Adicionar nas redes sociais alguém que eu nunca vou falar pessoalmente é um comportamento exclusivo da cultura de Brasília? Qual a intenção de alguém que insiste em ter a outra como amiga virtual, mas nunca fala com ela ou comenta nada?

Uma das coisas que mais me empolga na rede é a possibilidade de interação gratuita com pessoas do mundo todo e o compartilhamento de qualquer tipo de informação em tempo real. Outra é a capacidade de expressar opiniões ou sentimentos e instantaneamente ter uma resposta/opinião após décimos de segundo. Acho incrível essa velocidade com que as informações são trocadas.

As pessoas podem usar o mundo virtual para terem espaço com outras pessoas, pra fugirem de sua timidez, pra levarem um fora sem o peso do mundo real, pra tentarem ser mais sociáveis. A internet facilita diversos pontos das relações humanas, mas as pessoas precisam fazer jus ao que está disponível. E com todas estas facilidades ainda é possível encontrar quem adiciona Deus e o mundo como amigos virtuais e não têm a capacidade de dizer um “Oi” ou demonstrar interesse por algo dito. E esse objetivo indefinido destas pessoas desperta a minha curiosidade e ao mesmo tempo me deixa intrigado.

Eu, particularmente, não quero alguém no meu Facebook, por exemplo, apenas olhando o que faço. Quero quem interaja comigo e que me encontre na rua e continue algum assunto, estendendo o contato pessoalmente. Por diversas vezes já aceitei desconhecidos nos meus perfis dando uma oportunidade de começar uma amizade ou apenas trocar informações comuns. Contudo acabei por excluí-las por terem ficado lá de enfeite apenas aumentando a quantidade de “amigos”. Hoje eu costumo recusar imediatamente boa parte das pessoas que me adicionam do nada e sem dizer nada.

Não é porque o Facebook te sugeriu alguém que você tem que ir lá e adicionar. Podemos ter afinidade, mas não é porque somos da mesma cidade que vamos ser amigos.

Posso estar sendo chato ou sendo muito restrito, porém com todas as facilidades da internet e todas as maravilhas que me encantam nas redes sociais, prefiro ser mais aberto pessoalmente a virtualmente. Como as informações trafegam com uma velocidade gigantesca por aqui, vejo que dar espaço facilmente a desconhecidos é o mesmo que deixá-los ouvir conversas de cunho muito pessoal e dar liberdade para espalhar para quem quer que seja. E por mais que se limite o acesso às informações, alguma coisa sempre fica acessível e sabe-se lá o que uma pessoa (que você não sabe se é boa ou má) irá fazer com o que conseguiu.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Deixe-me aqui!

 
Deixe-me aqui com meu romantismo!
Expressando como se não houvesse amanhã.
Deixe-me aqui sem medo de sentir!
E sem ligar para reprovações ou limitações.
Deixe-me sentado encarando o teto!
Divagando e sonhando sem fechar os olhos.
Deixe-me sorrir sem motivos e por motivos bobos!
E gargalhar por pensamentos aleatórios e sem nexo.
Deixe-me odiar meus sentimentos e logo após amá-los!
Mandá-los para longe e depois correr para reavê-los.
Deixe-me aqui com minha inconstância!
Com minha vontade de ficar calado e ao mesmo tempo gritar para o mundo.
Deixe-me aqui com minha facilidade parar amar e minha impaciência para esquecer!
Apenas deixe-me aqui, mesmo que sozinho!
Ou se preferir venha sentir também. Mas sem medo!
Não aceito medo de sentimentos e muito menos repressões.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Pensando em mudanças


Sem radicalismo ou incentivado por alguma revolta olhei-me no espelho e pensei alto, como um grito suplicante para mim mesmo: “Hora de mudar!”. Físico? Comportamento? Roupas? Falas? Caminhos? Tanto faz! Qualquer coisa que trouxesse aquele sentimento raro de “estou passos à frente”. Meu eu ansiava por mudanças, por reconstruções. Aquela ânsia de evoluir, sabe? Não porque me disseram que preciso, muito menos por algum sentimento idiota de exclusão. Apenas porque o que é rotineiro me cansa, porque a previsibilidade me deprime e porque quero ser sempre melhor em alguma coisa. Que seja egoísmo! E se de fato for, estou certo de que não estarei fazendo mal a ninguém. E ainda que ninguém note, quero olhar para trás e pensar “Como estou melhor agora!”. Notar que amadureci em algo e ter orgulho de mim mesmo por qualquer besteira. Na verdade, besteira aos olhos alheios, pois para mim não terá sido nada em vão. A maioria das pessoas só sabe falar, falar e falar. E enquanto o fazem estarei eu caminhando, correndo e talvez pulando e no interior me sentindo muito bem, obrigado.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Durante o depois


 
Xinguei, praguejei e reclamei .
Segurei o choro, abafei o grito, me ausentei.
Não queria mais sentimento. Sentimento pra quê?
Apeguei-me a tudo que pudesse rimar com indiferença.
Ansiei por insensibilidade, pedi por frieza.
Desejei odiar. Quis ignorar.
Segui conselhos. Dei-me conselhos.
Acompanhei-me de músicas,
que tiravam palavras da minha boca.
Enfeitei os espaços vagos com filmes,
que remetiam à realidade.
Fui viver.
Dancei, corri, pulei, escrevi. Farreei.
Aceitei carinhos aleatórios.
Abracei, beijei e enjoei.
Esquentei, aliviei e fui me esconder.
Fugi do pensar, mas pensar era inevitável.
Desviei o olhar, procurei outro espaço.
Motivei-me. Alcancei a distração.
Esqueci.


domingo, 31 de julho de 2011

Dramas da solteirice

Estava eu pensando com meus botões a respeito da reclamação repetitiva que a maioria dos solteiros faz sobre ninguém os querer. Aquele lamento mais carente e dramático que alguém sempre solta em algum momento. Verdade ou drama?

“Ninguém me ama.” “Ninguém me quer.” “Ninguém quer saber de namorar.” “Ninguém se interessa por mim”. “Ninguém...” Engano seu e possivelmente do seu bom e bonito subconsciente, que te faz ver apenas o que te agrada. E exatamente isso que vive acontecendo: os solteiros veem, quase sempre, apenas aquilo que os agrada ou o que os interessa. Nunca sobra a mínima significância para o resto. Coitado do resto!

A verdade é que sempre existirá alguém ‘a fim’ da gente. Sempre existirá alguém querendo nem que seja apenas sexo ou apenas uns beijinhos e companhia (colorida) para o fim de tarde. Ou, nos casos mais simples, apenas o compartilhar de um colo e carinho gratuito. É só olhar atentamente ao redor. Sempre existirá interesse vindo de alguém, mas nós temos o ótimo costume de ignorar o que não nos interessa no primeiro momento. Isn’t it ironic? Don’t you think?

Claro que são muitos os fatores para a não reciprocidade. Os piores exemplos, que geralmente não se vê comentários sobre, são a falta de compatibilidade, vergonha da pessoa por ela não se encaixar exatamente nos padrões de beleza (ok, serem feias!), serem chatas, não se enturmarem com seus amigos, exagerarem em alguma atitude ou simplesmente por implicarmos com algum defeito óbvio. Porque é extremamente fácil jogar qualquer culpa possível em cima de um defeito alheio sem nem sequer ter cedido uma oportunidade para uma possível conquista futura. Comentários alheios sempre vão existir mesmo que a sua (seu) companheira (o) seja a pessoa mais bonita da face da terra. Encontrar defeitos e julgar livremente são coisas que todo mundo aprende muito bem a fazer sem que ninguém ensine. Levá-los em consideração é uma opção individual.

Não estou dizendo para irmos em frente e “fazer caridade”, “calçar a sandália da humildade”. Só quero enfatizar essa nossa mania de reclamar de estarmos sozinhos quando sempre existe uma possibilidade real bem ao nosso lado. E algumas delas são mesmo boas possibilidades nas quais apenas não demos oportunidades.

Será que não estamos exigindo demais?

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Conselhos

Dar conselho é uma coisa tão fácil de fazer. Contudo, puxando para um lado da história que geralmente não observamos, será que chegamos a seguir os próprios conselhos que damos às pessoas? Acredito que não.

É muito fácil mesmo alguém arriscar um conselho para uma situação qualquer, principalmente quando há presença de empatia na hora da conversa. Por exemplo, uma pessoa desabafa que está mal por conta de um término de namoro. Você ouve, entende e fala para a pessoa que ela tem que ocupar a cabeça e se divertir para esquecer. Ok! A pessoa te ouve e tenta seguir seu conselho. Então a situação se inverte. Agora é você quem terminou seu namoro e está mal. Vai se lembrar de tentar seguir seu próprio conselho que deu anteriormente? Dificilmente isso acontece. No geral vai encontrar uma dificuldade maior para aquilo que aconteceu com você, mesmo que basicamente tenha sido a mesma coisa da outra pessoa. E pode, por exemplo, tentar achar a solução melhor para o seu problema. Somos todos assim.

Estamos sempre prontos a aconselhar quem precisa, porém raramente vamos seguir tudo aquilo que dissemos ainda que boa parte dos nossos conselhos seja de experiência adquirida. Já vi acontecer por diversas vezes e não é difícil confessar o meu conhecimento de causa. “Faça o que eu mando, mas não faça o que eu faço.”

Talvez aconselhar seja mais fácil por estarmos de fora da situação. A empatia ajuda a ver melhor como seria estar no lugar da pessoa, todavia você não sente de fato o que ela está sentindo. Assim é mais fácil elaborar teorias para tentar ajudar. Quando se trata de nós mesmos, tudo fica mais complicado. As nossas ideias não valem muita coisa e vamos logo correr atrás de uma opinião alheia. E mesmo que conselhos alheios não valham nada acaba sendo sempre bom ouvir uma opinião diferente. Fica mais fácil de analisar e decidir alguma coisa.

domingo, 24 de julho de 2011

Ingratidão


Foto por mim. Central Park - Voucouver, BC, Canadá. 2009.

A minha ingratidão veio do berço. Não que eu tenha aprendido com meus pais, muito menos na escola. A minha ingratidão veio, talvez, marcada no meu DNA ou soprada no meu ouvido por algum vento sobrenatural e permanecendo lá no interior do meu interior. Gosto de interpretar dessa maneira, pois não me lembro de ter aprendido a ser ingrato. E não aprendi!

Ninguém me ensinou a não gostar do que tenho e a sempre querer coisas que não tenho. Ninguém me fez não gostar do meu nariz, das minhas pernas, do meu corpo. E meu corpo é apenas comum. Olha aí!
Ninguém me ensinou a rejeitar o que é comum, só por ser comum. Ninguém me fez querer o cabelo igual ao do vizinho, muito menos querer ser o vizinho. Meu cabelo é bom e o nariz do vizinho é maior que o meu. Estranho, né?

Ninguém me ensinou a sempre reclamar de alguma coisa na minha família. É fácil ver que toda família acaba tendo praticamente os mesmos problemas, mais ou menos intensos.

Ninguém me ensinou que eu não devo valorizar as coisas que chegam facilmente. Ninguém veio me dizer que tudo que eu ganhar não terá valor. E como eu já ganhei coisa cara.

Ninguém me falou que fulano é fácil porque teve atitude suficiente para vir flertar comigo. Ninguém me falou que os amores difíceis são os que realmente valem a pena. Ninguém disse que eu teria que me apaixonar apenas por quem não me desse a mínima atenção. Tenho que confessar que as coisas simples e de fácil alcance já me concederam bastante prazer.

Ninguém me mostrou como é ser idiota. Ninguém me mostrou, realmente, como ser ingrato.

Eu nasci e cresci bem desse jeitinho. E um dia me senti extremamente confortado ao perceber que não sou um ingrato sozinho no mundo. O mundo é feito de ingratos e há ingratidão para todo lado. Oh, se há! Contudo ninguém vê. Ou melhor, todos fingem não ver. Porque, contraditoriamente, fomos todos ensinados que ingratidão é ruim e feio. Então, que ela não exista! Ainda que existindo implicitamente.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Sentimentos

Sentimentos vêm e vão, todos os dias e a qualquer hora. A maioria mergulhada no âmago da palavra involuntário. Por mais que se tente evitá-los, eles sempre aparecem. Para cutucar o estômago, instigar bom ou mau humor, dar raiva, trazer ansiedade, amargurar, entristecer, fazer suspirar, fazer sonhar, desejar. Coisas demais...

Poderosos os sentimentos! Movidos por uma força invisível, controlados pelo subconsciente ou por qualquer outra coisa inexplicável do cérebro humano, ainda que simbolizados pelo coração. São cultivados, outros esquecidos facilmente ou mesmo forçosamente. Incomodam, ou não. Confortam, ou não. Há os que nascem, crescem e ficam perdidos no limbo. Há os que nascem fora dos contextos e após certo tempo não se sabe o que fazer com eles.

São tantos e com variações demais para qualquer coisa. Sofríveis ou amáveis. Surgem e se perdem frequentemente, em uma velocidade sem mensuração.

Sentir, assim no infinitivo mesmo, é um verbo presente. Ou melhor, onipresente. Fugir nunca adiantará. Maquiá-lo, só quem o faz sabe a sensação. Nunca inventaram aulas de como lidar com eles. A vivência, por consequência, acaba sendo professora. E depois de doses repetidas de sentimentos iguais, já houve um aprendizado ao menos para xingá-los ou, nos bons exemplos, para abraçá-los com toda força.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Pelos pensamentos

ELE:
Ela tem os cabelos mais lindos.
O cheiro mais intenso.
Os olhos mais chamativos.
A boca mais convidativa.
Eu a olho e a quero desde o primeiro momento.

ELA:
Ele tem um papo tão legal.
Sabe ser gentil.
Tem uma ótima educação.
Consegue ser uma boa companhia para qualquer coisa.
Mas não sei porque ele me olha assim.

ELE:
Ela está me observando.
Será que está pensando as mesmas coisas que eu?
Ela é tão linda!
Que vontade de abraça-la, beijá-la.

ELA:
Ele não para de me olhar desse jeito diferente.
Que olhar mais parecido com o de cachorro com fome.
Estou começando a ficar com medo.
Gosto dele, mas acho que ser gentil em retribuição o confundiu.

ELE:
Ela deu um sorrisinho de canto de boca.
E passar a mão nos cabelos é um bom sinal, né?
Vou “chegar” nela.

ELA:
Estou sendo tão fria com ele e apenas simpática.
Será que ele está achando que estou “dando mole”?
Hora de ir embora.

ELE: - Já vai? Espera!

ELA: - Sim, já vou. Combinemos algo outra hora, amigo!

ELE:
Analisar os sinais e expressões corporais das pessoas não é fácil. Então, tá! Melhor eu ir pra casa também.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Contraditório, comum

Eu gosto do branco, mas o preto cai melhor.

Está super frio, mas a camiseta cavada é mais bonita.

O azedo me agrada imensamente, mas para o mundo gosto de chocolate.

Tenho simpatia pelo meu cabelo enrolado, mas liso é estiloso.

Eu sou tímido, mas vivo querendo aparecer.

Meu pé é 42, mas me aperto nos 40.

Eu prefiro beijo, mas estou sempre abraçando.

Seu beijo é ruim e continuo te beijando com paixão.

Não gosto de jiló e estou comendo guariroba.

Odeio funk , mas estou dançando até o chão.

Não curto baladas, mas estou em todas.

Sou medroso, mas adoro filme de terror.

Eu sou carente, mas sou frio.

Quero você, mas estou com quem não me quer.

Aceito, mas não queria.

Vou, mas estava desejando minha cama.

Amo e digo que odeio.

Odeio e digo que amo.

Muito fácil ser contraditório. Basta ser humano.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

De olhos fechados



Era só fechar os olhos para qualquer preocupação sumir.

Aí, só abrir os braços para o vento causar um vôo raso.

Só forçar levemente o paladar para sentir um gosto doce.

Apenas iniciar um sorriso para sentir um toque terno.

E apenas olhar para cima para ganhar um abraço.

Tudo assim, livremente e facilmente.

 

Era tudo tão perfeito ainda que não houvesse perfeição em nada.

As cores combinavam com a melodia de uma música aleatória.

O sol aquecia e derretia as friezas, quaisquer fossem elas.

O cheiro instigava a nostalgia e liberava emoções escondidas.

E era possível correr sem que o cansaço chegasse.

 

Repentinamente acordei e não sabia mais como voltar a sonhar.

 

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Facilidades

Sorrir é fácil. Abraçar é fácil. Elogiar é fácil. Ser gentil é fácil. Ser atencioso é fácil. Dar carinho é fácil. Apaixonar-se é fácil. Cumprimentar é fácil. Beijar é fácil. Sentir qualquer coisa boa é fácil.

Todas as coisas acima, dentre várias outras, são de uma facilidade ímpar e nunca precisaram ser ensinadas por outrem. São aqueles tipos de coisa que já se nasce sabendo como fazer. E são coisas que agradam qualquer pessoa no mundo. Ouso dizer que agradariam até os extraterrestres, se existirem realmente.

Como facilidades, acho que não deveriam nunca serem reprimidas. Muito menos terem horário certo para serem expressas. Quem um dia decidiu definir alguma regra para isto é um idiota com nariz de palhaço! Estou quase certo que foi a partir deste ser estranho que vieram todas as complicações que as pessoas encontram hoje para serem atenciosas umas com as outras, por exemplo, ou evitarem abraçar. E posso estar sendo romântico demais ao querer acreditar que tudo é tão simples. Mas não é melhor acreditar que é assim?

Tantas oportunidades de fazer a diferença são perdidas diariamente porque temos a mania de complicar nossas ações por medo de repressão. Acho que as pessoas que mais reprimem as outras são as que mais têm medo de se permitir. É medo de gostar demais ou é medo de aparentar-se frágil?

Você nunca vai saber se seu sorriso agrada se nunca sorrir. Você nunca vai se sentir confortado se nunca abraçar. Você nunca vai ter agradado alguém sem nunca ter elogiado. Você nunca vai ter a gratidão de uma pessoa sem nunca ter sido gentil. Você nunca vai ter pessoas querendo falar com você sem nunca ter sido atencioso. Você dificilmente terá carinho, sem nunca ter dado carinho. Você nunca vai saber o que é estar apaixonado, sem nunca deixar-se apaixonar. Você nunca vai ter a atenção de alguém sem nunca ter cumprimentado alguém. Você nunca vai saber se um beijo é bom, se não beijar. Você nunca vai saber qual é a sensação de um sentimento sem se permitir sentir.

E você pode até quebrar a cara no meio do ato, porém já fez alguma diferença ou experimentou boas sensações. Obviamente que todas as pessoas têm seus momentos de mau humor, de tristezas e querendo estar sozinhas, mas na maioria das vezes qualquer uma das facilidades acima, quebra o gelo e consola. Contudo, falar das particularidades já seria outra história.