Santiago estava completamente inserido naquele mundo tecnológico. Mas claro, já nasceu como parte do mundo globalizado. Nasceu praticamente programado a saber utilizar um computador ou em segundos aprender a usar qualquer coisa digital que existisse. Seus pais e todos os mais velhos não eram capazes de absorver conhecimento tecnológico com tanta rapidez e ficavam perplexos em como a geração posterior a deles era totalmente mais evoluída intelectualmente. Para todas as pessoas mais velhas era como se todas as gerações anteriores a de Santiago já tivessem sido excluídas há tempos. Tudo parecia mais fácil naquele mundo novo, para aquelas pessoas novas. E Santiago sabia exatamente como viver ali, principalmente pelo explícito e nada contido amor pelas tecnologias.
Ele tinha smartphone, laptop, Ipod, tablet, câmera digital e se pudesse e tivesse dinheiro suficiente, teria tudo que lhe fizesse brilhar os olhos. E como existiam coisas além do que já possuía. Sua vida era organizada e conectada diretamente ao mundo virtual e, por conta desse detalhe, virtualmente ele estava com as suas pessoas durante vinte e quatro horas. Era um vício constante e tudo incrivelmente muito bom até o dia em que ele percebeu que seus momentos sozinho começavam a ficar cada vez mais escassos. Ligações no celular, mensagem de texto, notificações das redes sociais, notificações de outros serviços a qualquer hora. Nada do mundo virtual e nenhum eletrônico paravam para descanso. Santiago começou a sentir necessidade de desligar-se um pouco e se não o fizesse poderia ter um surto de grosseria generalizada.
Ele queria pensar, refletir e não ter assuntos de outras pessoas para resolver. Escolheu um dia qualquer e sem avisar ninguém desligou tudo que pudesse localizá-lo de alguma forma. Largou o celular em casa, pegou o carro e foi dirigir sem rumo. Percorreu mais de duzentos quilômetros apenas na companhia de suas boas músicas, parando de vez em quando para observar as coisas ao redor. E se esforçou ao máximo para não pensar e não se preocupar com a inquietação que causaria nas pessoas de sua vida. Que o mundo e todo o resto fossem temporariamente esquecidos! Objetivo alcançado. Finalmente ele havia conseguido ter a quase esquecida sensação de liberdade e como era boa. Curtiu tudo aquilo por quase dez horas e se sentiu renovado. Já podia voltar à realidade. E voltou.
De volta em casa era inevitável que religasse todos os seus eletrônicos e retomasse sua conexão com a virtualidade. Aquela era a sua vida, por menos privada que fosse. Imediatamente após apertar o botão de ligar do seu smartphone recomeçaram todas as notificações e mensagens, mas ele não estava mais à beira de um ataque. Não queria mais explodir com ninguém. Havia voltado a amar a tecnologia e tudo podia voltar a ser normal. Contudo havia uma diferença no cunho de algumas mensagens e certamente era algo já esperado. Ele deixou muita gente preocupada com seu sumiço e a quantidade de mensagens havia aumentado exponencialmente. Já estavam inclusive ameaçando anunciar oficialmente o seu desaparecimento e começarem as buscas. Após conseguir ler boa parte do que chegara, ele começou a dar notícias novamente. No fundo, estava achando tudo bastante cômico. Exagero das pessoas era só o que ele pensava.
Santiago tinha em mente que ninguém de sua geração escaparia nunca mais daquela tecnologia evolutiva e emergente. O futuro provavelmente seria ainda pior, ou melhor. Porém ele havia encontrado uma maneira de forçar uma pausa brusca daquela loucura que usualmente amava: bastava desligar tudo e fugir para qualquer lugar. Ele adotaria esse comportamento sempre que possível.
Prazer, Santiago. :-)
ResponderExcluirPerfeito Erick!! Adoro seus textos! :-)
Muito bom mesmo!!!!! Parabén...
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