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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Construção

Começamos uma amizade porque normalmente é assim no início, mas confesso que meu interesse sempre fora outro. Claramente meu olhar e meu tratamento sempre tiveram um carinho a mais, ainda que eu nada falasse. (Meu olhar sempre me entregou na vida. Era só parar e interpretá-lo.) Por causa dos amigos que tínhamos em comum, hora ou outra nos encontrávamos. Era sempre muito agradável, mas eu queria mais. Precisava satisfazer aquela vontade que ia além de amizade, mesmo sem pretensões de coisas sérias. Juntei toda coragem possível, acrescentei um pouco de álcool e fui arriscar um papo com segundas, terceiras e até quartas intenções. Levei um “fora”, o que eu instintivamente já esperava. Não me abalei. Lamentei por alguns dias e fiquei bem. Seguimos com a vida e com a amizade, como devia ser. E um adicional de proximidade surgiu e começamos a sair juntos quase sempre. Tínhamos muita coisa em comum e isso ajudava bastante no crescente número de encontros e programas realizados juntos. Algum tempo se passou.

(...)

Em um dia de festa, bebemos bastante, dançamos como loucos e para minha surpresa percebi um olhar diferente vindo em minha direção. Tinha certeza que aquilo não vinha da nossa amizade. Não podia. Havia um brilho a mais, mas como o “fora” anterior ainda mantinha-se na minha memória, não perguntei e nada fiz. E se assim fosse, eu não era mais responsável por iniciativa alguma. A noite chegou ao fim e fomos para casa, separadamente. Enquanto dirigia curtindo minhas músicas de pensar na vida, escuto o toque de mensagem no celular.

“À primeira vista realmente não houve interesse. Amizade era a única coisa possível e eu dispensei você. Contudo nossa convivência manifestou características suas que me conquistaram profundamente. Algo despertou. Quero você!”

Meu Deus, eu realmente tinha lido aquilo? Eu quis tanto a correspondência de interesses e tive que aceitar o não. Após aquele “toco” me obriguei a conformar com apenas a amizade. Por várias vezes foi estranho ver beijos alheios em nossas saídas e depois de ter aceitado sermos apenas amigos recebo esta mensagem? Não! Eu ainda tinha certo interesse, mas agora também havia orgulho. Parei o carro no acostamento e comecei a divagar. Lembrei-me das pessoas sempre dizerem que perderam ótimas oportunidades por orgulho e similaridades. E de fato eu não tinha nada a perder, apenas ganhar. Eu havia conquistado alguém que eu já tivera interesse. E isso era bom. Calei meus pensamentos e respondi a mensagem:

“Não entre em casa! Espere no carro. Estou chegando agora onde você está.”

Foi algo intenso e totalmente compatível. Melhor do que eu já cheguei a imaginar. E como era bom sentir uma correspondência, uma reciprocidade, ainda que existisse uma insegurança do que acontecia ali naquele momento. Contudo, eu não ia fugir e muito menos cobrar alguma coisa. A vida já tinha me ensinado o bastante para saber que expectativas demais estragam qualquer coisa. Eu iria curtir aquilo e tudo que viesse até não poder mais. Foda-se o futuro seja ele como fosse! Questionei-me algumas vezes sobre o tempo certo para as coisas acontecerem, mas de que isso importava? Era apenas uma curiosidade sobre coisas da vida, ainda que fosse óbvio que a vida nunca segue uma linha reta. De qualquer forma, a parte melhor já estava acontecendo. Estávamos juntos.

Um comentário:

  1. Nem sempre sao os 'eu te amo' que arrepiam o coraçao. 'Nao entre em casa..espere no carro ..estou chegando agora onde vc esta.." é de ganhar a alma.. adorei o texto.. um resumo curto de uma historia que me fez vibrar e torcer por vces.. :-)

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