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domingo, 20 de julho de 2014

Mude algo



Você percebeu que o lado mais torto tinha uma leve retidão. As cores mais destacadas não eram mais as mesmas. Você ganhou um novo filme favorito. Sua cama está mais perto da janela. Você passou a sentir um raio do sol no seu dedão do pé, durante as primeiras horas da manhã. A lua te conquistou. Suas pernas não são tão finas afinal e seu cabelo pode ser mais curto e você continuar bonito. O vizinho de cima só tem a cara de bunda. Sua chefe gosta de abraço tanto quanto você. Há um pé de maracujá do lado do seu prédio e tem um casal de corujas morando nele. Filme de terror pode não ser tão aterrorizante assim. A moça da limpeza sorri lindamente quando recebe um "bom dia". Domingo é um dia totalmente produtivo. No caminho alternativo para a parada de ônibus tem uns pés de amora que quase ninguém vê. Jenipapo tem um gosto muito bom.

De um momento sozinho, você passou a compreender suas próprias loucuras e descobrir que o mundo tem muito mais do que você imaginava. E foi percebendo, durante o percurso, o sentido das coisas sendo reformulado, as importâncias se perdendo e novos valores brotando de conceitos quebrados propositalmente. Você começou a enfatizar coisas antes efêmeras, a ouvir outras músicas, a entender outros assuntos, a ver outros caminhos, a compreender outras pessoas... Outras características desabrocharam e alguns comportamentos foram substituídos.

Mude algo e entenda.

sábado, 12 de julho de 2014

Enlouqueci



Enlouqueci. E não espero que entendam. Ou que colaborem.

Quero apenas que me deixem sentir o que for.

E se não deixarem, vou sentir do mesmo jeito.

É meu e só meu!

Eu já sei que julgarão, pois sempre julgam.

 

Sei que talvez soe solitário, e contraditório, e injusto.

Mas que tenha o rótulo que quiserem dar!

Enlouqueci. Ponto. Não importa o sentido disso.

Aliás, importa para mim.

 

Escoaram todos os sentimentos, os sonhos e os desejos.

Preciso da minha loucura.

É uma questão de necessidade.

Perdi-me para me encontrar.

Enlouqueci para me tornar são.

Tornar-me-ei! Encontrar-me-ei! Só não sei quando.

 

Enlouqueci e estou bem no meio da loucura.

Porém busco a sanidade, maior, melhor.

Coloco os pingos nos is, os traços nos tês, as vírgulas e os pontos.

Procuro a razão, o conhecimento, os caminhos asfaltados.

Enfrento os medos, compreendo as incertezas, silencio o desnecessário.

Dou sentidos, retiro importâncias, esqueço.

Amo e desamo.

E cresço.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Despedida




Não importa se é a primeira ou a última vez, despedir-se é sempre triste demais. Quase nunca é uma escolha, mas é sempre um baque, sempre machuca, sempre dói. Despedir-se é como perder um pedaço de si e ter que aprender a conviver com aquele buraco formado, com aquela falta. É ter que reaprender a viver sem aquela presença, sem aquele carinho, sem aquele cheiro, aquele abraço, sem tudo aquilo que a pessoa representava. Despedir-se produz saudade em abundância, na forma mais melancólica e dolorida que existe. Causa desespero, desânimo ou depressão. E infelizmente, o que nos resta é viver aquele luto nascido da despedida e aguardar o momento em que a saudade não doa mais, por que na vida sempre haverá despedidas e não há nada que mude isso. Só nos resta lamentar até o dia em que as boas lembranças tenham prevalecido sobre todo sofrimento.