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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Encontrar alguém


Repentinamente, em um dia em que não se espera nada, você encontra alguém legal e começa a se relacionar. Depois de certo tempo tudo que você deseja é se dedicar à outra pessoa, querer perder um pouco do individualismo e passar a viver o conjunto. Relacionar-se, namorar, casar, juntar as panelas... Verbos que, pelo o que é observável do mundo ao redor, são a reunião de diversas ações. Para todos eles:

É o adaptar-se aos horários um do outro e administrar o próprio tempo para conseguirem fazer o máximo de coisas possíveis como casal. É curtir a felicidade que acontece dos encontros e sentir saudade o tempo todo, apenas pelo fato de não estarem próximos. Abusar do sexo e tornare.-se cada vez melhores por conta da intimidade construída e por passar a conhecer cada ponto, o quão minúsculo for, e o que mais satisfaz. É falar com voz de criança e voz manhosa parecendo bobo, mas sendo interpretado como fofo. Tornarem-se beijoqueiros e viciados em abraço. É o ser romântico, elogiar e declararem-se sem motivo. Fazer qualquer coisa para agradar. É o apaixonar-se por todos os detalhes físicos, mesmo os feios e no meio de pessoas ainda mais belas que vocês, considerarem-se os mais bonitos do mundo. Preocuparem-se um com o outro pelo risco mais idiota e querer cuidar e cuidar. Descobrir gradativamente os defeitos de ambos e aprender a conviver com eles sem discussões. É se desentenderem em um momento e no outro agarrarem-se sem a mínima vergonha e pudor. É observarem-se nos momentos silenciosos e sorrirem, com aquele sorriso mais feliz, apenas porque se entreolharam. É conhecer o gosto um do outro e compartilhar as coisas que aos dois agradam. Sair juntos, sair separados e ficarem ansiosos para se reencontrarem. É fazer programa de casal e fazer programas com casais. Rir, chorar, se divertir. Arriscar um "eu te amo" e não ouvir de volta naquele momento, mas ser surpreendido com a reciprocidade e ser amado na hora certa. É planejar momentos futuros e sonhar momentos quase impossíveis, ainda que nunca se realizem...

Ações quase que infinitas e sempre cheias de significado. Quando existem a tal reciprocidade e disposição das partes as coisas vão acontecendo naturalmente e uma pontinha de felicidade fica gigante. Tudo que acontece acaba sendo bastante significativo. Só quem vive sabe a sensação, mas quem observa também pode admirar, pois é algo admirável, com certeza! Só não vale forçar demais para que aconteça ou iniciar um relacionamento apenas para mostrar que o tem. Alguém sempre sai machucado nessas histórias. Quando é pra ser, tudo acontece naturalmente e progride só com a convivência.


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Pagar pra ver

Medos, incertezas, inseguranças, paranoias, baixa autoestima... O cérebro humano é realmente uma caixinha de surpresas sempre pronto a pregar peças e fazer com que cada pessoa acabe complicando a própria vida em algum momento.

Vejo sempre acontecer por aí e já me peguei passando pela mesma situação tantas vezes. Você está ali muito bem em uma situação, curtindo um momento ótimo e de repente surge um pensamento, sabe-se lá de onde, e começa a tomar conta da sua cabeça. Você o ignora por algumas vezes, mas acaba se entregando àquelas ideias idiotas. E provavelmente por uma parte vinda do seu subconsciente que não conseguiu acreditar que o seu momento era realmente bom. Uma mania inconsciente de se boicotar, quase que geral. Conseguimos, no final, discussões infundadas, brigas, desistência. Quando tudo poderia ter continuado muito bem ou ter sido ainda melhor.

Destino é uma palavra muito vaga, principalmente quando é pelas próprias atitudes que destruímos o lindo castelo que já havia sido construído. As influências externas também tem seu peso, mas acredito que estas sejam mais fáceis de recusar do que as próprias palavras dentro da cabeça. Por exemplo, alguém te fala que sua situação, seja ela qual for, não vai dar certo. Você, obviamente, fica com aquilo martelando, porém é também você quem decide se vai continuar pagando para ver.

“Pagar pra ver”. Está aí uma ação que eu gosto de admirar. Metaforicamente falando, penso que nem todas as linhas serão sempre retas porque alguém, no passado, disse que seriam. Elas podem se entortar pelo caminho e nem por isso perderem suas boas características. Desistir de seguir em frente por medo de como pode ser é uma grande besteira. Pague pra ver! A vida já é sozinha um risco enorme. Só por estarmos vivendo já temos a possibilidade de morrermos a qualquer hora. E muitas das coisas que fazemos e dão errado no final não chegam sequer a beirar a morte. Sofrimento é algo que caminha ao nosso lado o tempo todo, desde que nascemos, pois ninguém é feliz “25 horas” por dia. O ser humano vive superando as perdas e as tristezas. E é bom lembrar que viemos ao mundo com uma capacidade enorme de adaptação e superação.

Eu costumava ouvir muito o pessimismo das pessoas. Hoje em dia quando alguém já diz que algo que faço não vai dar certo eu só tenho vontade de dizer: “Vou pagar pra ver mesmo assim!” Se não der certo eu me recupero, mesmo que demore e mesmo que eu encha a paciência de todo mundo ao meu redor. Eu sempre me recuperei até hoje e sempre aprendi também. Pois pague pra ver!

domingo, 13 de novembro de 2011

Vontades loucas

Desde pequenos somos obrigados a aprender o que é certo ou errado. Ou aprendemos sozinhos ao observar as outras pessoas, ou quando somos corrigidos por alguém depois de cometermos um erro. Gradativamente crescemos nos moldando às regras da sociedade, às regras familiares, às regras das religiões, às regras gerais.

Um dia, sem que ninguém espere, aparece um louco e satisfaz publicamente uma vontade, ou loucura, como provavelmente é considerada. Alguém que escalou um monumento histórico, pulou de paraquedas do prédio mais alto da cidade ou simplesmente foi ao supermercado de pijamas. Loucos ou corajosos, ganharam o seu carimbo. A sociedade dita suas regras e somos sempre condicionados a viver reprimindo muitas vontades para evitar retaliações e julgamentos. Vários “padrões”, hora ou outra, acabam sendo derrubados pelas revoluções e mudanças de comportamento.

Acredito que mantemos sempre, lá no fundo, aquela vontade de realizar publicamente uma loucurazinha qualquer. E talvez nem sejam realmente loucuras. Talvez sejam apenas vontades estranhas, incomuns, por serem coisas que não temos o costume de ver. A música “Quatro vezes você” do Capital Inicial fala:

“O que você faz quando
Ninguém te vê fazendo?
Ou que você queria fazer
Se ninguém pudesse te ver?”

Muitas destas coisas acabamos realmente por fazer enquanto ninguém vê. Por exemplo: tirar meleca do nariz, peidar para fazer barulho, arrotar alto, fazer careta no espelho, dançar de forma bem louca, brincar com o cabelo, fazer um controle remoto de microfone e sair cantando, andar pelado em casa e assim por diante. Porém também existem as vontades de agirmos de forma diferente meio aos olhos alheios. Correr pelado em via pública (um dia farei isso!), nadar em alguma fonte, gritar no meio de um shopping, abraçar um desconhecido, sair pulando de mãos dadas com alguém... A polícia está aí para reprimir muitas delas, porém quem um dia satisfaz alguma, experimenta uma sensação de liberdade bem divertida.

O post não é para incentivar ninguém a sair por aí quebrando regras e fazendo coisas incomuns. Apenas quis falar sobre essas vontades loucas que todos temos e que dificilmente satisfazemos. Contudo, certamente o mundo um dia gira e o que era loucura se torna algo normal. Já vi acontecer e mais de uma vez. É só pagar para ver.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Amizade profunda

Uma relação de amizade não surge assim do nada. Pode até haver aquela paixão fraterna à primeira vista, como muito acontece, mas nunca algo já completo que resolveu surgir. Ou nunca alguém rotulado como melhor amigo por uma única noite de presença. Uma amizade profunda é uma construção contínua, que leva dias e possivelmente anos e anos.

À medida que o tempo caminha, em sua vagareza ou rapidez, dependendo do referencial, os detalhes vão surgindo, agradando ou não. Da superfície ao interior, camadas e camadas são ultrapassadas com a convivência e eis que surge a tal intimidade (ver post antigo sobre intimidade). Antes, pessoas quaisquer, homem ou mulher, humanos no sentido mais genérico. Depois, pessoas únicas, com caraterísticas próprias, com qualidades marcantes. Em um dia, um ninguém, no outro, talvez, uma das pessoas mais importantes da sua vida. Alguém que entrou de cabeça na sua existência e foi ganhando importância com as conversas diárias, as saídas, os choros, as alegrias...

Um dia qualquer, após alguns anos, você senta, olha aquelas pessoas ao seu redor e tenta estimar, sem sucesso no somatório, o quão queridas elas são. Vai e repara o quanto você as conhece e as aceita do jeitinho que são. O quanto você tem vontade de fazer qualquer coisa por elas. E o quanto as defenderia com unhas e dentes, caso precisasse. Em um mundo cheio de gente com as quais você depara a todo tempo, você percebe que aquelas poucas ali são as mais conhecidas e mais necessárias. As que você mais quer por perto.

E um trecho do livro “O Pequeno Príncipe” que completa totalmente as palavras acima:

- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.

O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...

A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:

- Por favor... cativa-me! disse ela.

- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.

- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!

- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.

- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...

No dia seguinte o principezinho voltou.

- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.

- Que é um rito? perguntou o principezinho.

- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!

Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:

- Ah! Eu vou chorar.

- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...

- Quis, disse a raposa.

- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.

- Vou, disse a raposa.

- Então, não sais lucrando nada!

- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.

Depois ela acrescentou:

- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.

Foi o principezinho rever as rosas:

- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela á agora única no mundo.

E as rosas estavam desapontadas.

- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.

E voltou, então, à raposa:

- Adeus, disse ele...

- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.

- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.

- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...

- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.