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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Sentimento

Sentimento. Substantivo genérico. Comum a qualquer indivíduo. Todos têm e todos sabem que têm. Só que alguns fingem, outros expressam medianamente, outros exageram e outros dificilmente conseguem disfarçar .
A expressão dos sentimentos é uma coisa tão individual. Tão diferente e particular. Cada um desenvolve a maneira mais fácil para exprimir o que sente. E muito bonito quando tudo vira arte, música, poesia... Admirável.
Acho que quem costuma guardar muito os sentimentos acaba vivendo em um mundo limitado, como se tudo fosse apenas triste ou feliz e nada mais nem menos que isso. Pois é tão óbvio que todo mundo sente. Seja dor, seja amor, ódio, tesão, revolta ou qualquer coisa outra coisa relevante ou insignificante. E expressar isso, mesmo que apenas com palavras soltas em um pedaço de guardanapo, é algo tão libertador.
Mesmo assim o ser humano ainda consegue ser bastante contraditório. Finge não sentir nada em situações em que estão sentindo muito. Apesar da realidade vivida não ser a esperada, tem hora que se dá por totalmente satisfeito e tenta mostrar para o mundo que chegou no melhor ponto de algum lugar. E, na verdade, queria bem mais que aquilo ou não queria aquilo. Contudo, não move um dedo para mudar a situação. Meio revoltante, mas reclamar muito sobre isso seria hipocrisia.
Não digo para sair pelas ruas mostrando pra todo mundo o próprio pranto, mas permitir-se sentir, ainda que para si mesmo.
O que se Sente não se Consegue Dizer
O que habitualmente se sofre (se sente) não se pode contar. Não é só porque isso é normalmente ridículo (porque a grande maior parte do que se pensa e sente é ridículo) e só o que é grande é que cai bem e vale portanto a pena dizer-se. É que o dizer-se altera o que se diz. O sentir é irredutível ao dizer. Só o estar sofrendo diz o sofrer. Na palavra ninguém o reconhece ou reconhece-o de outra maneira, essa maneira em que já o não reconhece o que o conta. Mas dizia eu que a generalidade do que se pensa, sente, é ridícula. São raros os momentos de «elevação». A quase totalidade do tempo passamo-la distraídos, alheados em ideias sem interesse, nascidas de coisas sem interesse, as coisas que vai havendo à nossa volta ou no nosso divagar imaginativo ou que nem sequer chega a haver porque há só a abstracção total no quedarmo-nos pregados às coisas que nem vemos nem nos despertam ideia alguma e estão ali apenas como ponto de fixação do nosso absoluto vazio interior.
Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1'
FONTE: Citador

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