Eu te dei a mão. Você quis o pé
Dei o joelho. Você quis o cotovelo
Eu queria sol. Você quis chuva, raios e trovões
Eu quis cinema, você balada
Eu quis comer até ficar estufado. Você queria dieta
Eu acendi a luz. Você queria o escuro.
Eu queria rock. Você Pagode.
Passei a oferecer o pé.
A dar o cotovelo
Pedi por chuva, raio e trovões
Animei para balada
Resolvi que iria emagrecer
Passei a apreciar o escuro
Pagode nem que eu quisesse!
Você ignorou, mudou para outro planeta e tornou-se muda.
Eu te mandei ir à merda...
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Divergências
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Traição
Não sei se mais alguém compartilha da minha percepção, mas parece que traição atualmente tem se tornado um assunto tão comum. Eu posso dizer que minha mente é bastante aberta e sei lidar muito bem com as modernidades do comportamento humano. Porém traição, na minha cabeça, não é algo muito legal. Aliás, não é nada legal.
As novelas globais têm mostrado bastante essa atitude por boa parte dos personagens. Não existe fidelidade nos relacionamentos. Essa recém iniciada mesmo, Insensato Coração, quebrou explicitamente um paradigma antigo: um personagem bonzinho traindo. Acho que pensar assim vai um pouco além do ‘ter uma mente aberta’.
Segundo o Dicionário Aurélio:
Traição. (do lat. traditione, entrega)
1. Ato ou efeito de trair (se).
2. Crime de quem, perfidamente, entrega, denuncia ou vende alguém ou alguma coisa ao inimigo.
3. Perfídia, deslealdade, aleivosia.
4. Infidelidade no amor. 5...
A palavra traição já traz toda uma conotação negativa. Seja no amor, na amizade ou qualquer outro tipo de relacionamento interpessoal, você nunca diz que traiu alguém ou alguém te traiu como uma coisa boa. Pelo menos eu nunca vi. Contudo é o que parece que estão tentando fazer. E se isso de fato acontecer, pra onde vai a linda e querida confiança? Todo mundo vai trair e aceitar ser traído numa boa? Estranho demais.
Quando alguém trai, está ferindo toda a confiança recebida da outra pessoa. Tudo bem que pode haver várias explicações para tal. Por exemplo, o relacionamento estava rotineiro e uma das partes precisava se aventurar. Ou a tentação sexual foi irresistível, mesmo que o indivíduo ame a(o) companheira(o). E por aí vai... Sem falar nas situações de traição nas amizades, já que até isso tem-se visto muito por este mundo.
Antigamente as puladas de cerca em um casamento eram algo que vivia na surdina e quando era descoberto resultava em uma confusão enorme e até em morte. Hoje você chega em alguém e pergunta porque está traindo e como resposta você tem: “Ah, tenho certeza que fulano também me trai. Vou aceitar na boa e não vou fazer o mesmo?”. Virou uma reação em cadeia. E desmistificou-se a ideia de que só os homens traem. As mulheres têm sido bastante serelepes também.
Pra quem não sabe, relacionamentos abertos existem oficialmente! Não seria mais fácil estipular um? Pelo menos assim haveria o consentimento de ambas as partes e no caso de uma saber, não levaria a mal. Seria algo honesto. Porque não tem coisa pior que você descobrir que alguém que você se dedicou por completo e jurou ser fiel estava, nas horas vagas, tirando leite da vaca da vizinha. É doloroso, humilhante e com certeza um motivo grande para o fim de um relacionamento.
E acredito que seja extremamente melhor tentar algo flexível e transparente do que, após o feito, tentar a todo custo ser perdoado pelo (a) traído(a).
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
Certo momento certo
Algumas sensações são tão difíceis de serem descritas. A hora de um beijo inesperado, por exemplo. Tentei fazer isso no pequeno texto abaixo. Espero que dê pra sentir junto com as palavras. rs.
Tudo começou com um olhar. Um cartão de visita apenas visual. Hipnotizante, magnético. O encontro de pensamentos iguais. Uma história silenciosa imaginada em poucos segundos.
Um sorriso espontâneo e independente surgiu. A beleza veio de carona e deu charme à visão. Passos iniciados por uma força invisível. O tato acionado em um abraço demorado. Mais uma vez o olhar e o sorriso. Respiração sentida. Palavras não ditas. Palavras desnecessárias.
Os olhos se fecharam. As bocas se movimentaram, se encostaram. Sensações extremas. O mundo movimentado parou. Não havia mais nada. Nada era preciso. Horas se passaram, talvez anos, tudo dentro de minutos.
domingo, 16 de janeiro de 2011
O incômodo do ouvinte
Se você é um bom ouvinte, costuma ter diversas pessoas nas quais sempre desabafam com você. Mesmo que talvez você nem seja um bom conselheiro ou nunca tenha as palavras certas para as horas certas, contudo você sabe muito bem ouvir. Isso já te inclui bastante na vida das pessoas.
A parte ruim de estar na situação de ouvinte, e o mínimo que for como conselheiro, é o sentimento de inutilidade que pode surgir. Na maioria das vezes você usa da empatia e se coloca no lugar da pessoa, concorda ou discorda das coisas faladas, tenta mostrar um lado bom, mas você não pode fazer com que a situação melhore. Não dá pra pensar em uma mágica e fazer com que os problemas do seu amigo sumam. ‘Tentar’ acaba sendo a palavra mais adequada.
Algumas vezes essa inutilidade incomoda. É uma pena saber que é quase impossível mudar a cabeça de uma pessoa que está triste ou com algum problema e ceder otimismo a ela. E não adianta ela dizer que só de a estar ouvindo já é suficiente. Não foi suficiente, a não ser que ela ficou 100%.
Sonhando um pouquinho, algumas coisas das relações interpessoais bem que poderiam ser reinventadas. Alguém deveria inventar uma maneira de vender ou doar otimismo.
Enquanto isso não surge do nada no mundo é bom que continue existindo ouvintes, né? Porque por mais que você diga que não ajudou em nada você sempre ouve um “Pelo menos você tá me ouvindo”…
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
A arte de reclamar
Somos seres humanos e nosso trabalho enquanto vivemos é nunca estarmos satisfeito com aquilo que temos. O dia pode estar lindo, o sol brilhante, o céu sem nuvens, os pássaros voando e cantando. Com certeza vamos reclamar, ou do calor ou do barulho dos pássaros. E por quê? Pela simples arte de reclamar. E quem nunca reclamou na vida que atire a primeira pedra!
O ato de reclamar, tirando os casos patológicos e estes mais intensos, faz parte das ações diárias de qualquer pessoa. Rica ou pobre, feliz ou infeliz. Há um certo prazer em reclamar e ninguém pode negar. E ainda pode ser usado como forma de fugir da falta de assunto com alguém. Por exemplo, você está em uma conversa à toa com um conhecido e de repente o assunto acaba. O que você faz? Reclama de alguma coisa. “Esse tempo não passa nunca”, “Que saco de chuva que nunca para”, “Minhas dívidas só crescem”... E aí, menti?
Como quase tudo que pode também ser classificado por meio da intensidade, obviamente existem aqueles que são mais reclamões que outros. Amargurados, insatisfeitos, pessimistas, sabe-se lá o porquê. São assim e não fazem a mínima questão de mudar. Reclamam das janelas abertas ou fechadas, do ar condicionado, do vento, da chuva, da disposição das coisas, da própria vida e da vida dos outros. Afastaram-se um pouco da normalidade.
Apesar de ser uma ação super chata, nunca será eliminada da vida de ninguém. A não ser que as coisas que nos incomodam no mundo acabem para sempre, o que seria impossível. Vamos reclamar, então? Só não vale fazer disso um hábito repetitivo demais, pois você vai acabar virando um chato cansativo.
Hoje é segunda-feira! O dia perfeito para qualquer reclamação. E quem ainda não reclamou de alguma coisa, até meia noite já o terá feito. rs.
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
Uma história comum
João já havia conquistado muitas das coisas que queria pra sua vida. Mesmo assim sentia um vazio que não era preenchido com nada. Um dia resolveu esquecer da existência deste vazio e decidiu que iria aproveitar cada momento da maneira mais intensa possível para compensar. E assim começou a fazer. Foram muitas viagens, farra em cima de farra, muita dança, bebida... Tudo muito bem aproveitado.
Maria estava descrente da vida que tinha. Graduou-se e continuava desempregada. Estava atrás de emprego há exatamente um ano. Certo dia resolveu que iria caminhar bastante e deixar pessoalmente currículos por todos os lugares onde passasse.
Em um momento de descanso, ao caminhar distraído pela rua e sem rumo, João escorregou em uma folha de árvore e se desequilibrou. Maria vinha logo atrás com a pasta cheia de currículos e foi atingida em cheio pela queda de João. Vários currículos foram lançados ao ar e ironicamente o vento começou a espalhá-los. Exatamente ao mesmo tempo João e Maria xingaram e praguejaram o mundo e ambos começaram a catar os currículos voadores. Quando cada um pegou a última folha de papel, entreolharam-se pela primeira vez. Foi algo estranhamente estático e apesar da situação, João se apaixonou à primeira vista por Maria.
Após desculpas atrás de desculpas e apresentações pouco forçadas, João convidou Maria para um jantar na intenção de compensá-la pelo ocorrido. Talvez não a única intenção... Maria aceitou.
Encontraram-se no local combinado, na hora combinada. João estava empolgado e bem arrumado. Maria estava curiosa e estava bonita sem a intenção de estar. Tomaram vinho e conversaram bastante, descobrindo muitas coisas em comum. Jantaram muito bem à sugestão de João e, pouco alegres do vinho, resolveram estender a noite e sair para dançar. Foi uma noite extremamente agradável e nenhum dos dois tinha motivo algum para reclamar. Dançaram muito e cansaram exatamente na mesma hora. João se prontificou a levar Maria em casa. Durante todo o trajeto o assunto ainda não tinha acabado. Trocaram telefone e contatos virtuais. No último momento, na porta da casa de Maria, aconteceu o primeiro momento sem palavras. Na verdade, as palavras não eram necessárias. Um beijo. Um até logo.
Continuaram conversando durante toda semana e, mais um vez, decidiram se encontrar. Mais um encontro, mais papos interessantes e beijos durante toda a noite. João estava cada dia mais encantado e sentia que quase tudo em sua vida ganhara uma certa emoção. Maria se sentia muito bem.
João descobriu um lado romântico e começou a despejá-lo em cima de Maria que, por sua vez, decidiu dizer que aquela amizade colorida, para ela, estava na hora de perder os benefícios da cor. Foi bem clara que seria apenas amizade. Ponto.
João se apaixonou. Maria, apesar de estar gostando muito de toda história construída, nunca teve intenções ou fizera planos de algo além daquilo. João entristeceu-se momentaneamente, mas foi obrigado a entender. Argumento algum mudaria a situação. Ele percebeu que o vazio anteriormente era sentido pela falta de um amor e objetivou o alcance deste. Ela focou ainda mais sua busca por emprego e depois de um certo tempo foi beneficiada. João e Maria, desde o primeiro momento, já haviam se tornado bons amigos
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Sentimento
O que se Sente não se Consegue DizerO que habitualmente se sofre (se sente) não se pode contar. Não é só porque isso é normalmente ridículo (porque a grande maior parte do que se pensa e sente é ridículo) e só o que é grande é que cai bem e vale portanto a pena dizer-se. É que o dizer-se altera o que se diz. O sentir é irredutível ao dizer. Só o estar sofrendo diz o sofrer. Na palavra ninguém o reconhece ou reconhece-o de outra maneira, essa maneira em que já o não reconhece o que o conta. Mas dizia eu que a generalidade do que se pensa, sente, é ridícula. São raros os momentos de «elevação». A quase totalidade do tempo passamo-la distraídos, alheados em ideias sem interesse, nascidas de coisas sem interesse, as coisas que vai havendo à nossa volta ou no nosso divagar imaginativo ou que nem sequer chega a haver porque há só a abstracção total no quedarmo-nos pregados às coisas que nem vemos nem nos despertam ideia alguma e estão ali apenas como ponto de fixação do nosso absoluto vazio interior.
Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1'FONTE: Citador