Narciso não
gostava de pessoas. Narciso gostava de coisas. Dentre as coisas, havia os
móveis, os livros, as músicas, as tecnologias, as fotos, as artes... Como era
fácil gostar de coisas. Não importava ele o que fosse. Coisas não causavam
medo. Coisas não julgavam. Coisas não faziam mal. E o que sentia por elas não
fazia diferença alguma. Podia sentir o que fosse sem consequências. E ele
conversava com as coisas quando ninguém via. Ainda que as coisas nunca o
respondessem, ele se sentia muito bem após tais conversas. Coisas não usavam
suas palavras contra ele mesmo. E coisas não distorciam o sentido de nada dito.
Era extremamente fácil conviver com coisas. Narciso era claramente uma pessoa
solitária e não fazia questão alguma de mudar. Estava, quase sempre, em um
mundo paralelo, particular e impenetrável. Vivia entre pessoas, sem nunca conseguir
gostar delas. Muitas vezes taxaram-no de louco, psicopata, problemático... “Coitado
do Narciso!” Mas ele não se importava. Convivia com pessoas porque não havia
outro jeito. De vez em quando tentava gostar de animais. Porém se identificava mesmo
era com as coisas. Narciso não gostava de pessoas. E do seu jeito, era feliz.
Muito com, cada dia te admiro mais.
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