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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Narciso e as coisas



Narciso não gostava de pessoas. Narciso gostava de coisas. Dentre as coisas, havia os móveis, os livros, as músicas, as tecnologias, as fotos, as artes... Como era fácil gostar de coisas. Não importava ele o que fosse. Coisas não causavam medo. Coisas não julgavam. Coisas não faziam mal. E o que sentia por elas não fazia diferença alguma. Podia sentir o que fosse sem consequências. E ele conversava com as coisas quando ninguém via. Ainda que as coisas nunca o respondessem, ele se sentia muito bem após tais conversas. Coisas não usavam suas palavras contra ele mesmo. E coisas não distorciam o sentido de nada dito. Era extremamente fácil conviver com coisas. Narciso era claramente uma pessoa solitária e não fazia questão alguma de mudar. Estava, quase sempre, em um mundo paralelo, particular e impenetrável. Vivia entre pessoas, sem nunca conseguir gostar delas. Muitas vezes taxaram-no de louco, psicopata, problemático... “Coitado do Narciso!” Mas ele não se importava. Convivia com pessoas porque não havia outro jeito. De vez em quando tentava gostar de animais. Porém se identificava mesmo era com as coisas. Narciso não gostava de pessoas. E do seu jeito, era feliz.

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