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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Lembrança de um último beijo



last_kiss_by_gwarf Depois de todas as conversas, queixas e concordâncias. Depois de uma recapitulação breve. O fim apareceu. Era tão triste e ao mesmo tempo tão necessário. Enfim… Mesmo com ele, saímos juntos dali ainda carregando o fio invisível da ternura e do carinho. Caminhamos em silêncio, cada um com seu turbilhão de pensamentos e alguns lamentos. Até que arrisquei um último beijo. Eu tinha que fazê-lo. Queria uma despedida que não carregasse a aparência comum de coisa ruim. E a correspondência foi linda. O coração se acelerou e as lágrimas só não caíram por pura vergonha. Percebi que você também se esforçava para não chorar. Foi um beijo para ser lembrado para sempre.

Ok, chegou a um fim e foi triste. Naquele momento eu ainda te amava. Ainda queria que todas as peças soltas do nosso quebra-cabeça voltassem a se encaixar. Queria que a nossa história ainda tivesse outros capítulos. Como eu queria consertar os nossos mundos que conseguiam ser ao mesmo tempo parecidos e tão diferentes. Queria fazer com que o amor fosse mais forte que tudo, como nos filmes ou nos livros. Mas o momento deixou de contribuir com o querer.

O nosso momento havia deixado de ser. Havia outras coisas. Havia vários nós (da vida) para desatar. Sou grato por tudo. E quero que saiba que nunca deixei de te querer bem. Espero que nossas estradas ainda se cruzem, ainda que os rótulos sejam outros. Espero um dia podermos rir disso tudo e recordar com doçura.

 

Outubro de 2012.

domingo, 29 de setembro de 2013

Cada um com o seu


Cada um com suas loucuras, suas sandices, sua bondades, suas linhas retas.
Cada um com seus gostos, seus desgostos, suas vontades de todo tipo, seus desejos realizados e reprimidos. 
Cada um com suas prioridades, suas coisas importantes, suas futilidades. 
Cada um com suas certezas, suas verdades, suas desconfianças, suas dúvidas sobre qualquer coisa, suas curiosidades. 
Cada um com suas músicas, suas roupas, seus sapatos, suas bebidas, seus objetos inúteis, suas lembranças nas coisas.
Cada um com suas descobertas, seus segredos, seus mundos particulares, suas peripécias expostas. 
Cada um com seus lamentos, suas mágoas presas ou libertas, seus medos, suas frustrações.
Cada um com suas dificuldades, suas facilidades. 
Cada um com seu cada um.
Sempre...



Foto: minha

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Os estranhos porquês que ouvimos em casa



É falta de água.
É por que tomou leite.
Foi o sereno de ontem.
É por que brincou com fogo.
Foi o pequi com sorvete.
É por que tomou muito banho durante o dia.
É por que comeu mais de dois ovos no dia.
Foi o bolo quente que você comeu.
É por que dormiu com a cabeça molhada.

Seja por uma dor física, de uma gripe ou resfriado ou de um simples mal-estar, geralmente, os motivos acima, dentre vários outros, são os que ouvimos das pessoas de casa quando fazemos alguma reclamação.

Por exemplo, você acorda com dor de cabeça e reclama com a sua avó e imediatamente ouve: “Foi por causa do computador!”. Para tentar consertar, você diz que não usou o computador na noite anterior e logo ouve um “É porque você dormiu tarde”. E se continua com as suas justificativas, vai ouvindo das mais diversas explicações. Claro que, em alguns casos, uma dor de cabeça pode até ser culpa do computador, mas é engraçado que a culpa seja única e exclusivamente daquele trambolho tecnológico.

Para os mais velhos, há uma frequente necessidade de culpar uma ou mais de nossas ações pelo o que nos aflige. E são explicações nem sempre plausíveis. Alguém me responde por quê? Não sei se são apenas crenças passadas de geração para geração, ou simples superstições compartilhadas e que hoje, aos poucos, vai perdendo a força por conta da ciência. Mas é algo muito engraçado de se ouvir às vezes. Creio que algumas coisas acabam tendo um pouco de verdade, como algumas misturas que costumamos fazer ao comer, contudo não deixa de ser cômico ouvir que sua barriga está doendo porque você comeu ovo e tomou suco de manga ou que você acordou espirrando porque dormiu com o cabelo molhado.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Quando a esperança nos fode



"Esperança é a última que morre." Vixe!

Quando ela, a tal verdinha, não representa coisas boas, tem o poder enorme de literalmente nos foder. Desculpem-me o termo, mas se pararmos pra pensar, percebemos que tem verdade nisso aí.

Vamos a um exemplo...

Você terminou um namoro extremamente turbulento. E você era perdidamente apaixonado pela criatura, mas o universo conspirou desde sempre contra vocês. Aquilo não daria certo, nem com reza ou simpatia e tudo era completamente evidente. Consequentemente veio o término, contudo você nutria a esperança de que tudo pudesse se acertar e que vocês viveriam felizes para sempre. Com isso, você foi perdendo oportunidades de fazer outras coisas por você ou testar um relacionamento com outra criatura.

Nutrir esperança nem sempre é uma coisa boa. Ela te prende e te atrasa. Faz você querer sempre movimentar o seu passado com a crença de que, dessa vez, as coisas podem funcionar. Não necessariamente em um relacionamento. Esperança pode foder com qualquer situação da sua vida em que você se apegue demais a ela. Isso por que você estará tão preocupado em consertar coisas estragadas, que não vai dar válida atenção aquilo que ainda nem aconteceu. Sem falar na inércia que ela pode causar na sua vida. Você vai ficar lá parado, esperando as coisas melhorarem e vai deixar de agir.

É, não é fácil abandonar seus pedaços pelo caminho, mas se são pedaços podres, não tem porquê ficar tentando, incansavelmente, reanimá-los, uma vez que é possível colocar algo muito melhor no lugar.

Esperança é parente da expectativa. As duas podem atrapalhar nossas vidas e com certeza nos foder, dependendo do poder que damos a elas. O jeito, então, é não ter esperança e expectativas? Não! O ser humano não evoluiu ainda a esse ponto. O jeito é não ceder tanto às exigências das duas.

domingo, 12 de maio de 2013

Mãe



Mãe é o que mais se aproxima do significado do amor. Mãe é remédio, é antisséptico, é curativo. É a cura para qualquer coisa. Mãe tem poder de acalmar tormentas emocionais apenas com as mãos, ou os olhos, ou a voz. Colo de mãe é o lugar mais reconfortante do mundo inteiro. Basta se deitar por alguns minutos para  tudo ficar bem. Mãe é pura compreensão quando não existe tal coisa. É perdão sem fim. Mãe é pressentimento, é interpretação exata de sentimento. Mãe apenas olha e entende tudo. Mãe é conexão sem explicação; coisa de Deus. Contudo, mãe também é preocupação, é superproteção, é ciume, é por quê, é noite mal dormida. Ou melhor, várias noites mal dormidas. Mãe é a pata cuidadosa, a leoa feroz. Mãe é pura fortaleza, mesmo quando aparenta fragilidade. Mãe é professora, é advogada, é psicóloga, é enfermeira... Mãe é o que ela quer ser, basta que seus filhos precisem. Mãe é presente de Deus; valiosíssimo, único, insubstituível. Como dizem, mãe é mãe. Uma das melhores coisas do mundo.

E desculpem-me as outras mães, pois a minha é a melhor do mundo!

Feliz dia das Mães!

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Fugindo da rotina




Costumeiramente ao ir trabalhar, quando não levo comida de casa, passo em algum lugar para comprar. Certo dia, soltaram no trabalho o seguinte comentário: “Nossa! Você é bastante inovador na hora de comer. Sempre traz alguma coisa diferente.”. Eu respondi com a pergunta: “Por que eu deveria comer sempre a mesma coisa se eu tenho a possibilidade de variar o cardápio?“. Engraçado perceber que até nisso as pessoas prestam atenção.

Após a minha resposta-pergunta fiquei matutando sobre o comentário. Não sei das outras pessoas, mas eu enjoo de comer sempre a mesma coisa. Ter a possibilidade de variar o que como muito me agrada e afirmo que não se trata exatamente de gastar mais com comida. Muitas vezes encontro pratos com preços bem menores justamente por sair por aí procurando.

Ampliando a questão, preciso dizer que não tenho apreço nenhum por coisas rotineiras. Não enjoo apenas de comer a mesma coisa sempre. Enjoo de pegar o mesmo caminho para ir para o trabalho, enjoo de ouvir sempre as mesmas músicas, enjoo de ir às mesmas festas e aos mesmos lugares, enjoo de usar o cabelo da mesma forma... 

O mundo é grande demais e cheio de possibilidades demais para viver somente do mesmo; há muito para conhecer. Viver eternamente de mesmice é viver limitado, em minha opinião. Claro que compreendo quem consegue encontrar conforto e estabilidade na rotina. Ela traz esse tipo de sentimento e há quem goste. Há quem goste de tudo, não é mesmo?! Porém acho que desbravar o mundo e suas trilhões de coisas seja bem mais emocionante e enriquecedor. 

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O pote de sorvete



Eram dias daqueles mais quentes do verão, com a temperatura acima dos trinta graus. Os corpos todos suavam em bicas e caminhar ao sol era tido como tortura. Momento oportuno para ficar com pouca roupa, para tomar no mínimo dois banhos e beber muito líquido. Momentos nos quais até quem não bebia muita água mudava de atitude.

Abençoados aqueles que tinham ar condicionado em casa e sofriam menos com o calor. Para o resto, sobravam apenas as coisas geladas, para comer, beber ou passar no corpo. Ou ainda, dependendo da loucura, eram válidas algumas ideias criativas para tentar melhorar a situação, como tomar banho de mangueira, de bacia ou quase entrar na geladeira. Nessas horas, improvisar tornava-se o verbo da vez.


E foi com as benditas coisas geladas que Juliana decidiu se refrescar. Veio nela, de repente, uma vontade louca de tomar sorvete. Lembrara-se de ter visto um pote no freezer de casa. Seus pais tinham o hábito de sempre comprar nas idas mensais ao supermercado e o que, por hora, cairia muito bem.

Assim, ela foi à cozinha, pegou uma taça, uma colher e correu à geladeira com toda gana. Agarrou o pote gelado como se fosse algo cheio de valor e levou-o para mesa junto da taça.  Ao abrir o pote, uma pequena surpresa: estava cheio de feijão. “Que porcaria! É feijão e só feijão!” Sua mãe tinha que guardar o feijão justamente no pote de sorvete, para sua infelicidade.

Para Juliana, então, restara apenas chupar um gelo, a fim de tentar se refrescar e enganar o paladar.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Gosto



felicidade
Gosto do cheiro de terra molhada.
Gosto de olhar a lua e ficar observando o céu.
Gosto do barulho da chuva quando bate na janela, na hora de dormir.
Gosto de abrir os braços e fechar os olhos para sentir o vento.
Gosto de ouvir música com os olhos fechados, ou lendo suas letras.
Gosto de aumentar o volume do som e dançar sozinho pela casa ou na frente do espelho.
Gosto da dormência nos lábios causada pelo álcool.
Gosto de abrir o pote de canela apenas para sentir o cheiro.
Gosto de cantar no chuveiro e desenhar no box embaçado pelo vapor.
Gosto de enfiar o pão de queijo no iogurte e batata-frita no sorvete.
Gosto de me aventurar na cozinha e inventar molho para macarrão.
Gosto de tomar sorvete até ficar tremendo de frio.
Gosto de abrir um livro novo e sentir o cheiro das páginas.
Gosto quando leio e esqueço o mundo à minha volta.
Gosto dos filmes que me fazem sentir algo.
Gosto de ouvir tocarem violão e prestar atenção na vibração das vozes.
Gosto de olhar para os pés e mãos das pessoas.
Gosto dos sorrisos e do som das gargalhadas, mesmo as estranhas.
Gosto do arrepio que dá ao ser beijado no pescoço.
Gosto quando as conversas duram sem nenhum esforço.
Gosto de ser atencioso.
Gosto de ouvir histórias incomuns de pessoas mais velhas.
Gosto de abraçar sem ter motivo.
Gosto de sorrir para pessoas desconhecidas na rua.
Gosto de receber mensagem de madrugada.
Gosto de mandar mensagens sem nexo ou apenas por ter me lembrado da pessoa.
Gosto de ser lembrado com música; música boa!
Gosto de dizer que estou com saudades e gosto muito quando sinceramente dizem que estão com saudades.

Gosto muito do fato de conseguir ficar feliz com coisas tão efêmeras.

sábado, 26 de janeiro de 2013

O desesperador



Certo dia, decidi ser responsável e fazer alguma coisa da vida que rendesse dinheiro. Com isso, nasceu a necessidade de ter que acordar cedo. Algum infeliz inventou a frase "Deus ajuda quem cedo madruga" e ela agora começava a fazer sentido na minha vida, ou pelo menos tentava fazer. "Deus, por favor, me ajuda mesmo!" 

Lá fui eu, lindo e alegre (só que não), tentar aprender a programar os meus horários e ter hora para dormir. Só que para isso, precisaria de um despertador, porque força de vontade não havia suficiente. Minha carteirinha de dorminhoco era vitalícia. Peguei o celular e programei o alarme, de lá mesmo, para tocar às 6:30 da matina, já sabendo que ensaiaria levantar e ficaria nessa até às 7:00. "Estratégia, meu filho! Ela é útil nessas horas também." Escolhi a música mais agradável que tinha na memória do celular e mandei bala.

The game has just begun.

Como previa, não consegui dormir cedo no dia anterior, porém a ansiedade pelo novo e o medo de causar má impressão no primeiro dia de trabalho, me fizeram levantar na hora com tranquilidade. Quer dizer, depois de acordar várias vezes durante a noite acreditando estar atrasado. Os dias seguintes seguiram mais ou menos da mesma forma, mas fui, aos poucos, acumulando sono pra dormir mais cedo. A primeira semana foi até tranquila.

No primeiro dia da terceira semana, começaram as falhas na estratégia... O desesperador, digo, despertador, tocou na hora e fui usando a função "soneca" de 5 minutos até não poder mais. Consequentemente, passei a aceitar a ideia de me atrasar um pouco. Um pouquinho só! Durante vários dias, mantive a linha alarme-soneca-alarme atrasando na média normalíssima de 10 minutos.

Passados alguns meses, eu já tinha certeza que o emprego era meu, o que trazia um conforto maior durante o sono. Ou seja, desastre. O despertador tocava e eu não mais ouvia e, quando ouvia, desligava sem nem notar. Acordava atrasado desejando uma morte súbita para que eu não precisasse sair da cama. Passei a ter um amor incondicional pela minha cama. Os minutos de atraso começavam, assim, a crescer exponencialmente. E chegara a hora de bolar uma nova estratégia.

Fui atrás de um novo despertador. Comprei um daqueles irritantes com som de bip. Assim, o alarme do celular continuava programado para a mesma hora, 6:30. E o de bip irritante coloquei às 6:50 e bem distante de mim, para eu ter que sair da cama para desligá-lo. Na altura do campeonato, eu odiava aquele toque do celular com todas as minhas forças. Contudo, não adiantava mudá-lo, pois também odiaria os próximos, com absoluta certeza. A estratégia, afinal de contas, estava renovada e os dias seguiram mais (in)felizes. Comecei a torcer que aquela perdurasse dessa vez. E perdurou, com a benção divina.

Certo dia, estava eu na casa de um amigo, com várias outras pessoas e, repentinamente, o celular de alguém começou a tocar com o MEU toque do alarme. Na mesma hora, o que era alegria virou sensação ruim de desespero. Vontade de encontrar o celular e destruí-lo, e dar um soco no dono. Naquele momento, eu tive a certeza que odiaria aquela música o resto da minha vida.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Coisas entaladas




Não faço ideia de quantas vezes deixei que frases ficassem entaladas na garganta por achar que seria loucura dizê-las. Nesse momento, por exemplo, é exatamente o que me ocorre. Estou com uma vontade enorme de distribuir toda minha admiração, todo o meu apreço, todo o meu carinho. Tudo de mais sincero que vêm à mente, assim, inesperadamente. Que vontade de falar!

Mas sei que logo viria em minha direção alguma desconfiança, ou o incisivo questionamento acerca de um suposto interesse escondido entre as minhas palavras. Diriam muitas coisas, eu sei. Os seres humanos não estão preparados para serem admirados sem um motivo aparente. E quantos seres humanos admiráveis existem por aí! Meu Deus, o Senhor variou bastante nas características, hein. E como é bom vê-los sendo o que são! Alguém consegue entender o meu êxtase?

Talvez eu realmente seja louco pelo simples fato de querer elogiar quando menos se espera, de querer abraçar quando sinto vontade, de querer dizer para certas pessoas que eu as acho lindas e incríveis. Talvez eu tenha mesmo perdido a noção quando vem a vontade de querer estar perto de quem instiga o meu interesse. Pessoas que nem sequer conheço, mas que forçaria um papo tranquilamente só para ter certeza de que são tudo ou mais do parecem ser. 

É... Por tudo que a sociedade dita, reconheço que seria loucura dizer àquela mulher bem vestida e cheia de elegância, que vai pelo mesmo caminho que eu todos os dias, quão linda a acho. Seria mesmo estranho parar aquele senhor, no qual vi pela primeira vez, apenas para dizer que acho charmoso seu cabelo grisalho, penteado para trás. E insano seria ter vontade de interromper a leitura daquele rapaz, sentado na beira da fonte, apenas para fazer algumas perguntas sobre o livro que está lendo. É tudo loucura, eu sei. É tudo o que não fazem.


Ando, quase sempre, com vontades assim. Há dias em que elas são ainda mais absurdas, se comparadas com o que geralmente taxam de absurdos. Por isso, as palavras continuam sempre entaladas na garganta. O que me resta é ser um louco consciente, limitado a meu ver. E algumas vezes, vou me soltando com quem me dá liberdade. Porque, graças a Deus, existe outros loucos como eu! Ainda que em pequenas quantidades.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Histórias repetidas







Sabe as novelas em que nos créditos aparece a mensagem “qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência”? São entrelinhas que valem para vida de qualquer pessoa. É incrível como as histórias sempre se repetem, mudando apenas os personagens. Às vezes, mudando também os contextos.





  • A menina começa a ficar com o menino. Ela se apaixona e os dois mantêm um romance por algum tempo. Repentinamente o menino decide que é hora de pararem de ficar, pois não é momento para se ter um relacionamento. A menina, com certa relutância, aceita a decisão. Passado algum tempo (talvez em curto espaço de tempo), o menino muda o status do Facebook para namorando ou mesmo para casado. – História bem parecida com a do filme “500 dias com ela”.
  • A família reúne-se para o Natal. Todos socializam da melhor maneira possível, comendo, bebendo e compartilhando novidades. Do nada, um dos assuntos traz uma discussão desagradável. Os humores se exaltam, as vozes se alteiam, copos são quebrados e por pouco não acontece uma briga física. Termina com um dos familiares indo embora ofendido. Passado um tempo, estão todos confraternizando juntos novamente.
  • Duas amigas quase inseparáveis, daquelas que compartilham segredos e gostos, apaixonam-se pelo mesmo rapaz. Uma consegue “pegá-lo” e a outra fica ressentida chupando dedo. A amizade fica temporariamente abalada.
  • No primeiro dia de aula de uma faculdade, um garoto chega atrasado uma vez e ainda cochila na aula. Um dos colegas de classe o observa. Durante os dias seguintes, na mesma semana, o garoto repete o comportamento de chegar atrasado e cochilar. O garoto que o observava logo o classifica como mau aluno, como preguiçoso. Contudo, quando chega a época de provas, o suposto preguiçoso tira ótimas notas, se não as melhores da turma. Ele se manteve cansado por um tempo, possivelmente, por estar com problemas em casa, mas seu comportamento, sem explicações, foi mal interpretado e sua personalidade logo rotulada. – O tal efeito halo.
  • A menina vivia afirmando que nunca faria certa coisa. Repetia incansavelmente para Deus e o mundo que nunca faria aquilo. Um dia, “paga língua”.



Estes foram apenas alguns exemplos dos mais comuns; e alguns dos maus. Entretanto, as histórias boas também se repetem, uma vez que os finais felizes também existem. E o dito “Acontece nas melhores famílias” é usado por um motivo. Então, repetem-se as dores, repetem-se as alegrias.

Acredito que seja impossível mensurar a quantidade de histórias repetidas pelo mundo.  É bem provável que sejamos as criaturas mais previsíveis e repetitivas do universo. Mudam-se os tempos, os fatos e as situações, mas nossas ações vão seguindo sempre uma mesma linha.

Algumas vezes, é possível aprender com os erros de outra pessoa. Em outras vezes, teremos que passar pelas mesmas situações para compreender. E assim, vamos vivenciando nossas próprias histórias e as vendo se repetir em outros contextos.

"Não é verdade que as pessoas se repetem. O que se repete são as situações." (Caio Fernando Abreu)

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Narciso e as coisas



Narciso não gostava de pessoas. Narciso gostava de coisas. Dentre as coisas, havia os móveis, os livros, as músicas, as tecnologias, as fotos, as artes... Como era fácil gostar de coisas. Não importava ele o que fosse. Coisas não causavam medo. Coisas não julgavam. Coisas não faziam mal. E o que sentia por elas não fazia diferença alguma. Podia sentir o que fosse sem consequências. E ele conversava com as coisas quando ninguém via. Ainda que as coisas nunca o respondessem, ele se sentia muito bem após tais conversas. Coisas não usavam suas palavras contra ele mesmo. E coisas não distorciam o sentido de nada dito. Era extremamente fácil conviver com coisas. Narciso era claramente uma pessoa solitária e não fazia questão alguma de mudar. Estava, quase sempre, em um mundo paralelo, particular e impenetrável. Vivia entre pessoas, sem nunca conseguir gostar delas. Muitas vezes taxaram-no de louco, psicopata, problemático... “Coitado do Narciso!” Mas ele não se importava. Convivia com pessoas porque não havia outro jeito. De vez em quando tentava gostar de animais. Porém se identificava mesmo era com as coisas. Narciso não gostava de pessoas. E do seu jeito, era feliz.