De repente me percebi caminhando, mas não me lembrava de quando começara. Na minha cabeça era como se eu tivesse sido colocado ali, no meio do caminho, instigado a andar sem parar. Não havia um passado. Por mais que eu vasculhasse a minha memória nenhuma lembrança surgia, exceto as que acompanhavam os passos recentes, que não eram muitos. Estranho demais pensar em continuar caminhando sem saber o motivo, mas minhas pernas continuavam como se movidas por uma força externa.
O futuro é sempre incerto. A incerteza causa medo. O desconhecido causa mais medo ainda. Isso eu tinha em mente. Não sei porque havia começado a pensar em futuro sem sequer ter vestígios do meu passado. E só pensar em futuro não adiantaria nada. Passei, então, a prestar atenção no presente.
À medida que os passos eram dados, imagens surgiam ao meu redor. Antes era apenas o caminho. Agora havia grama, flores, árvores. Era a minha atenção sendo mais bem usada. E mais coisas apareciam. Pessoas, carros, construções. Até música comecei a ouvir. Na verdade, tudo sempre esteve ali, mas eu estive tão preocupado com o passado e em saber do futuro que nunca parei para observar. E como o presente era bonito. Ou melhor, pelo menos podia ser visto assim, se eu tivesse a intenção.
Parei para observar uma árvore torta. Muito torta, digamos. Fiquei extasiado ao ver que ela se sustentava e se “comportava” como qualquer outra árvore. Uma lembrança. Continuei a caminhar e me deparei com um carro parado e abandonado. Toda cor já havia sido corroída pelo sol e plantas nasciam por todo lado dentro dele. O que era um carro tinha se tornado um objeto, uma escultura. Outra lembrança. Andando mais um pouco escutei uma música saindo de uma casa e parecia me puxar em sua direção. Parei, fechei os olhos e comecei a ouvir. Foi como se ganhasse um cafuné. E por algum motivo inexplicável, liguei-a ao meu caminhar. Outra lembrança. Observar fazia bem e era um aditivo para a criação de lembranças.
Redobrar a atenção para o presente foi de bom grado. Devia ter pensado nisso anteriormente...
Já havia comentado,mas... sumiu ! :-(
ResponderExcluirPor mais que não percebamos, vamos sempre continuar a caminhar, seja mais rápido ou vagarosamente, errando ou acertanto! E se começamos a perceber coisas simples ao nosso redor... bom sinal, estamos caminhando bem!
É isso, mais uma vez parabésn Erick.
Derbo.