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domingo, 2 de novembro de 2014

Ela




Ela não gostava de ninguém
Gostava daqueles que faziam força para compreendê-la
Seu coração era grande
Mas ela o escondia dentro de uma caixa de sapatos caros

Ela amava a chuva
E pedia por chuva sempre que o céu estava limpo
Sentia-se implicitamente elogiada
Nuvens de chuva combinavam com a cor de seus olhos

Ela se sentia livre ao correr pelas ruas
Seus vizinhos chamavam-a de maluca
E quanto mais loucura lhe atribuiam,
Mais coragem tinha de fazer o que bem entendia

Ela tocava seus instrumentos musicais invisíveis
Cantarolava alto quando estava feliz
Arriscava passos de dança em ruas movimentadas
E ignorava olhares desdenhosos

Ela era linda
E sua beleza podia ser maior ou menor
Tudo dependia de sua vontade
Ou de olhos de mentes bem abertas

Ela tinha medo de toques humanos em excesso
Tinha medo de sorrisos muito fáceis
Corria de demonstrações muito intensas de afeto
E alimentava diariamente sua desconfiança

Ela sonhava sempre que podia voar
E gostava de voar acima de cidades grandes
Já tinha visitado meio mundo em sonhos
E sempre acordava com um sorriso de conquista nos lábios

Ela era destemida, quase sempre
Andava de ónibus sem rumo certo
Desenhava carinhas sorridentes por lugares que achasse bonitos
E vivia sorrindo olhando para o céu

Ela era tão feliz
Mas um dia tentou se encaixar no mundo
Foi perdendo sua loucura, dia após dia
Até que se tornou um pessoa normal

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