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sábado, 31 de março de 2012

Egoísta

Hoje eu não quero ser responsável.
Não quero ser organizado.
Não quero ser educado.
Não quero ser prestativo e nem atencioso.
Não quero ser bem humorado.
Não quero ter que resolver problemas.
Não quero escutar desabafos ou ceder conselhos.
Não quero nada que não seja meu.

Hoje meu colo está fechado para balanço.
Meus ouvidos só recebem música e elogios.
Minha fala emudeceu-se.
Meus braços estão atados. Só abrem para abraços bem dados.
E minhas pernas estão presas ao chão.
Se quiserem que eu ande, que me carreguem!

Hoje eu quero falar palavrão.
Quero reclamar de tudo e de todos, ainda que para ninguém ouvir.
Quero bagunçar o meu quarto, sabendo que arrumarei amanhã.
Quero usar qualquer roupa e não pentear o cabelo.
Quero ser chato e exigente.
Quero ser egoísta e não me preocupar com nada.

Hoje eu não quero cuidar de ninguém!
Quero é que cuidem de mim.
E só!

terça-feira, 20 de março de 2012

O gostar

Gostar sinceramente de alguém é algo muito nobre. Não me refiro ao gostar unicamente dos casais, mas o gostar de ter carinho, ter apreço pelas pessoas do convívio geral. Má vontade é algo que desaparece e não há obstáculos grandes o bastante para atrapalhar o querer bem. É uma vontade constante de fazer bem e querer bem. Uma vontade de agradar, de ser prestativo, de elogiar, de admirar e apoiar. De largar qualquer coisa e ir se doar sem que, naquele momento, haja uma pontinha de necessidade de ser reconhecido. Aquela coisa completamente gratuita, sabe? É muito bonito isso. E também é muito agradável senti-lo.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Português

O português é uma língua rica, cheia de detalhes, de regras e características que a torna uma das mais complexas do mundo. São necessários anos de estudo, leitura e prática até conseguir boa proficiência e, mesmo assim, nunca beirando a perfeição. Porém, parece que o básico vem sendo deixado de lado. O básico mesmo! Andam errando muito nas coisas mais simples. Com a popularização das redes sociais é possível observar, com maior alcance, como anda a escrita do brasileiro, já que muitas coisas são publicadas diariamente e o tempo todo. É triste ver tanto erro.

Pode até ser exagero meu, mas é totalmente perceptível o assassinato crescente da língua. Uma parte pode até ser justificada pela pressa de escrever, mas alguns outros erros poderiam matar qualquer gramático do coração. Alguns se tornam tão comuns que acabam criando uma reação em cadeia. Se a culpa é, de fato, da internet eu não tenho argumentos suficientes para afirmar. Contudo, mesmo com ela, todos ainda têm que frequentar as salas de aula por muitos anos e estudar português em todas as etapas do ensino.
 
Na minha época de escola, estudá-lo bem era totalmente necessário para “passar de ano”. Era uma matéria que reprovava como outra qualquer. Hoje já vi várias pessoas com diploma de ensino superior escrevendo “seje”, “grassa” ou sem nem sequer saber o que é o infinitivo dos verbos, por exemplo. Pergunto: Acabou a cobrança nas escolas?
 
Agora imagine a seguinte situação: Antes da troca de fotos ou descrição física, você começa a conversar virtualmente com alguém. Conversa vai, conversa vem, a pessoa solta “com migo”, “açerto”, “cincero”, “pra mim estar”... Qual a imagem dessa pessoa você cria na cabeça? Nem vou tentar descrevê-la. Não sei quantos concordam com a ideia, mas português muito errado é broxante.
 
Claro que é impossível saber todas as regras, escrever e falar com perfeição. (Eu, na minha querida humanidade, vivo errando e sendo corrigido. Não sou expert.) Ainda assim, alguns erros são vergonhosos de se cometer. Ou pelo menos a vergonha deveria sempre existir, mas não é o que acontece. Há erros gritantes publicamente por aí causando muita dor nas vistas.
 
Diante do exposto, enfatizo a importância de interessar-se pela própria língua. Está claro que todos os caminhos que se destinam ao sucesso exigirão proficiência na mesma. Afinal, é a nossa língua e saber utilizá-la é nossa obrigação!
 
Últimas considerações: Ler ajuda muito no geral e só é algo chato quando você não sabe escolher o que vai ler; Dicionário existe por um motivo; Escrever não é um bicho de sete cabeças se seu português não é ruim.

Alguns erros comuns:

Concerteza – O certo é "com certeza". É incrível como as pessoas insistem em escrever "concerteza", tudo junto. São duas palavras, formando uma expressão que significa "sem dúvidas", "certamente", "é claro", "é lógico".

Agente/ a gente - Quando possui função de pronome, substituindo de modo informal a palavra "nós", o certo é escrever as palavras separadamente (a gente). Lembrando que a conjugação do verbo é na 3ª pessoa do singular.
Ex.: A gente gosta de cantar.
Agente: Que age, que exerce alguma ação; que produz algum efeito. S. m. e f. 1. Tudo aquilo que age, que atua, produzindo um efeito. 2. Pessoa encarregada da direção de uma agência; agenciador. 3. Gram. Ser que realiza a ação expressa pelo verbo. 4. Filos. O princípio ou o sujeito de uma ação. 5. Dir. Pessoa que executa qualquer ato jurídico ou por ele é responsável. 6. Med. Qualquer força, princípio ou substância capaz de agir sobre o organismo, quer de modo curativo quer de modo mórbido.

Nada haver - O certo é "nada a ver", dando a ideia de nada semelhante, nada parecido, sem fatos em comum.
Ex.: Aquele livro não tem nada a ver comigo.

Mas/mais
Mas: conjunção adversativa, equivale a porém, contudo, entretanto:
Ex.: A felicidade voa tão leve, mas tem a vida breve.
Mais: pronome ou advérbio de intensidade, opõe-se a menos:
Ex.: Este é o curso mais caro da faculdade.

Mal/mau
Mal: advérbio (opõe-se a bem), como substantivo indica doença, algo prejudicial:
Ex: Sua aula foi mal preparada. (advérbio)
Ex: A criança sofre desse mal há dois anos. (substantivo)
Mau: adjetivo (ruim, de má qualidade)
Ex: Tive um mau presságio hoje.

Afim/a fim -
Afim: adjetivo que indica igual, semelhante.
Ex: Tínhamos idéias afins.
A fim: indica finalidade:
Ex: Vesti-me a fim de ir ao cinema.

Demais/ de mais
Demais: advérbio de intensidade, sentido de “muito”.
Ex: Você é linda demais.
Demais também pode ser pronome indefinido, sentido de “os outros”.
Ex: O papa rezava enquanto os demais dormiam.
De mais: opõe-se a de menos.
Ex: Não vejo nada de mais em sua atitude.

Menas - O certo é "menos". Trata-se de um advérbio de intensidade, portanto é invariável.
Ex.: Por favor, coloque menos água no copo.

Pra ‘mim’ fazer - Mim não faz, porque não pode ser sujeito. Assim: Para eu fazer, para eu dizer, para eu trazer.

O ingresso é “gratuÍto” - A pronúncia correta é gratúito, assim como circúito, intúito e fortúito (o acento não existe e só indica a letra tônica).

Eles “tem” razão - No plural, têm é assim, com acento. Tem é a forma do singular. O mesmo ocorre com vem e vêm e põe e põem: Ele tem, eles têm; ele vem, eles vêm; ele põe, eles põem.

Ela “estar” bem. – O certo seria “Ela está bem”. O verbo “estar” está no infinitivo, ou seja, não foi conjugado.

 

Fontes:
Obs.: Também sou escravo dos erros. Caso os veja, pode apontá-los! Tenho o propósito de sempre melhorar.

terça-feira, 6 de março de 2012

Afinidade



Aquelas pessoas ali eram desconhecidas apenas pela falta de oportunidade de um encontro anterior. Já que, a partir de uma primeira troca de palavras, ou mesmo de mudez, a afinidade tornou evidente a presença de uma familiaridade ímpar e uma naturalidade enorme para se falar de coisas íntimas sem a mínima objeção. 
Após pouco tempo de conversa, era perceptível que o papo iniciado espontaneamente ou por inciativa, poderia ser estendido pelo tempo que fosse possível, sem nunca acabar. Por mais que houvesse divergências e influências do gosto individual, tudo permanecia extremamente agradável. Nem mesmo o silêncio incomodava. Não existiam cobranças e o assunto poderia ressurgir sem empecilhos. As superficialidades eram facilmente derrubadas e rapidamente a intimidade era construída. Havia total intimidade.

Muito interessante esse negócio de afinidade. É algo meio mágico, que raramente acontece, mas quando acontece não parece que nasce, parece que já estava ali há muito tempo, somente aguardando um momento para despertar. E após despertar, traz a sensação de que as vidas das pessoas que a compartilham já foram próximas em algum momento. Traz a sensação de que para começar qualquer tipo de relação não existem obstáculos. Nunca existiram, na verdade.
Afinidade é gratuita e independente. Com ela os sentimentos não necessitam de explicação e tudo é recíproco mesmo sem a existência de gestos ou palavras. Não há influências preconceituosas e sim aceitações do que quer que seja. Não há interesses, mas uma doação constante sem espera de retorno.

Acaba que o único problema da afinidade é a impossibilidade de ser vivida. E como acontece! É impossível conviver com todos que instigam nascer uma relação de afinidade. O mundo não deixa, as situações não deixam, as vidas individuais não deixam. No final, o que conforta é saber que não haverá cerimônias ou muros muito grandes para derrubar e fazer com que tudo se torne natural e agradável se um dia os caminhos se cruzarem. A afinidade torna tudo muito simples e fácil.



sexta-feira, 2 de março de 2012

Um quase reencontro

Ele sempre foi um cara muito legal. Era bastante divertido conversar e passar certo tempo diariamente com ele, porém nunca chegamos a ser amigos de verdade. Amigos de verdade sabem tudo um do outro, conhece a família um do outro e coisas assim. No nosso caso, não sabíamos quase nada e um aprofundamento nos detalhes da vida nunca chegou a acontecer. Nunca tentamos e nem pensamos em passar daquela linha-limite traçada inconscientemente. Não era importante para mim e, provavelmente, nem para ele.
As circunstâncias ao nosso redor nos uniam temporariamente, mas nossos interesses gerais não caminhavam na mesma estrada. Eu gostava de azul, ele de rosa. Ainda assim, vivemos e curtimos muito daquilo que aconteceu ali e pronto. O agradável vínculo de pouca profundidade acabou no tempo devido e cada um seguiu seu caminho sem qualquer despedida ou troca de contatos. O tempo foi passando e sua existência mal fora lembrado com o passar dos anos. A saudade quase não chegou a bater à porta. Um tanto previsível. E a vida seguiu seu curso.
Contudo, um reencontro - quando se mora na mesma cidade e esta não é tão grande – nunca é algo impossível. E assim aconteceu...
 
 
Vínhamos os dois em direções contrárias e, após um pequeno momento de reflexão sobre a cara um do outro, nos reconhecemos mutuamente. Eu quis, a todo custo, mudar de direção ou fingir que não tinha o visto, mas era tarde demais. Importante frisar que não era má intenção da minha parte. A vontade de fugir dali veio do querer evitar a fadiga de ter que resumir toda aquela lacuna que havia surgido com a nossa falta de convivência. Ter que contar tudo o que eu tinha feito desde o nosso último dia de presença compartilhada. Essas coisas dão preguiça, principalmente quando não são planejadas. Tanta gente faz isso.
Assim, pensei rápido com meus botões e enfiei na cabeça que eu não era obrigada a resumir minha vida ali em poucos segundos. Não tinha por quê. E não tinha por que ele ter que contar o que quer que fosse sobre ele também. Poderíamos combinar um dia só para isso, ou não.
Cumprimentei-o cordialmente torcendo para ele ter pensado como eu e por sorte, ou sabe-se lá o quê, foi bem o que aconteceu. Ele cumprimentou de volta, rolou um “Tudo bem?” respondido por ambos e só. Porém, saí daquela situação imaginando se gostaria de conviver novamente com ele, se a vida que tínhamos atualmente deixaria que isso acontecesse. Ter pessoas legais ao nosso redor nunca é demais, mas também rolava aquela dúvida se ele continuava o mesmo. As pessoas mudam né? Eu mudei. Mas enfim.
Na primeira oportunidade que tive o procurei nas redes sociais e mandei uma mensagem perguntando aquilo que evitei anteriormente. Foi legal reaver um bom papo, mas nossos mundos eram outros agora e o “amigo” tornou-se apenas “amigo virtual”. Pelo menos agora compartilhávamos o mesmo gosto musical, o que me deixava feliz e mantínhamos a facilidade de continuar discutindo assuntos relevantes sobre o mundo. E só também.