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segunda-feira, 25 de junho de 2012

Conviver

Conviver pacificamente é algo complicado. Ainda mais quando temos que entender e aceitar no outro todas as manias, as birras, as crenças, as crises, os dramas, os podres... Coisas que ninguém escapa de ter. Mesmo sendo muito sincero e transparente você omite boa parte das suas vontades (malvadas) de extravasar para não causar maiores conflitos.

Vontade de xingar uma pessoa que nos desagradou por qualquer motivo é tão comum. É uma vontade que aparece com uma facilidade imensa. Contudo, se fomos bem educados, ficamos calados, pois, normalmente, o motivo do desagrado fora pessoal e nada válido coletivamente. Vem, geralmente, da mania que temos de esperar nos outros comportamentos iguais aos nossos. O que dificilmente acontece. E agir assim, calando-se, não fora algo exatamente ensinado, mas à medida que crescemos, nós acabamos seguindo o tal modelo da boa vizinhança. Educação, né?! Alguns têm.

A família é o primeiro e melhor exemplo. Aceitamos os parentes do jeito que eles são (nem sempre) ou ignoramos suas inconveniências com uma facilidade maior, e vice-versa. Porque se não for assim, tudo complica. E não dá para acabar com os laços sanguíneos. É aquela coisa: “Aceita ou vasa!”.

Conviver com família, na maioria dos casos, é mais fácil, pois fomos sempre condicionados a tolerar muita coisa pela convivência “forçada”. E, de certa forma, faz parte do subconsciente dificultar em acreditar que nossos queridos possuem também seus lados negros. Assim, o aprendizado com a convivência já começa dentro de casa, ainda que exista e persista a vontade de mandar um parente ir tomar naquele lugar.

“Temos mais dificuldade em reconhecer "defeitos" e limitações nos nossos parentes queridos e próximos do que nos outros com quem convivemos. Somos particularmente tolerantes com nossa mãe. Isso acontece mesmo quando elas são egoístas, manipuladoras e autoritárias.” (Flávio Gikovate, via twitter @Flávio_Gikovate).

Educação, nas diversas situações de convivência, não precisa ter necessariamente ligação com o gostar. Espera-se que você aja educadamente mesmo não gostando. Pelo menos foi assim que eu aprendi. Por exemplo, você não entende uma crise de mau humor de um colega de trabalho e se irrita com ele, porém, para evitar constrangimentos maiores, você ignora e segue sua rotina. Pode até ser um desafio de paciência, todavia é um comportamento necessário, principalmente para viver bem entre as pessoas.

Fato que é prazeroso, às vezes, “soltar os cachorros” em algumas criaturas. Existe quem merece, claro! Mas imagine o mundo com pessoas fazendo o mesmo com você o tempo todo, em todo lugar. Seria muito desagradável.

Sempre bom lembrar que o inverso também ocorre. Nossos comportamentos também irritam as pessoas e, quase sempre, elas omitem suas opiniões para evitar discussões desnecessárias. E não é uma questão de faltar com sinceridade, mas ter empatia também na parte podre de cada um.

“Como melhoram as pessoas depois de passarmos a gostar delas!” (Grayon)

domingo, 17 de junho de 2012

Hipocrisia

As pessoas adoram uma hipocrisia, não é? Principalmente quando querem ter direito de criticar e dar conselhos que elas mesmas nunca seguem.
Para quem não sabe:
hipocrisia
hi.po.cri.si.a
sf (gr hypókrisis+ia1) Manifestação de fingidas virtudes, sentimentos bons, devoção religiosa, compaixão etc.; fingimento, falsidade.
Há muitos hipócritas no mundo. Muitos falsos moralistas cheios de razão e com suposto direito de julgar atitudes de terceiros sem nunca se lembrar das próprias atitudes. E não dá para limitar hipocrisia à apenas uma parcela pequena da população. Há hipócritas demais. Eu, você, seus pais, seu chefe, seus governantes, o mundo.
“Se uma leve camada de hipocrisia não cobrisse o apodrecido tronco da nossa moderna civilização, que horrendo espetáculo não se depararia à nossa vista!” (Paolo Mantegazza)
Já é meio óbvio que a sociedade exerce um poder gigantesco sobre o comportamento humano e que certos modelos são sempre cobrados. Exemplos: - a mulher que presta é a que beijou poucos homens na vida e preservou sua virgindade para pessoa certa; - homem que é homem tem que ‘pegar’ todas. Modelos, estes, que vão além das épocas. E ser taxado de qualquer coisa ruim perante a sociedade é algo bem desagradável mesmo. Ninguém quer. Assim, quase sempre, todos vão fingindo ser exemplos de bondade e bom comportamento. Até aí tudo bem.

A parte irritante é a distribuição gratuita de críticas e julgamentos por pessoas que não têm moral para tal. Bom lembrar que o mundo gira sem parar e que muita coisa acaba voltando. Aí, no final, é sempre um festival de “pagação de língua”.

“Pagar língua” é uma expressão/gíria comumente usada para a situação em que a pessoa passa por uma experiência que desaprovava, rejeitava ou tinha forte preconceito. Ou seja, e se pegar fazendo algo no qual disse que nunca faria.
“A hipocrisia é a fuga mais comum daquele que não tem coragem de ser ele mesmo, o que o leva a sufocar seus medos e frustrações no preconceito para com o outro.” (Elis Raik Miranda de Carvalho)
Bom mesmo é lembrar-se da existência daqueles corajosos que ao invés de fingirem ser comportados, vão quebrando tabus, modelos comportamentais idiotas e revolucionando o mundo. E também daqueles que têm a mente aberta o suficiente para aceitar as loucuras alheias, ou simplesmente respeitá-las.

Antes de julgar o comportamento de alguém, seja pelo menos exemplo de alguma coisa!


domingo, 10 de junho de 2012

Prioridades e perdas

saudade-e-desejoHá coisas demais para se dedicar... A parte ruim é perceber que no meio das dedicações há sempre muita coisa ao redor ficando esquecida.

Tantas coisas, tantas pessoas, tanta família, tanto trabalho, tantos estudos, tantos detalhes, tanto tudo... Nas tentativas de acertar sempre, vamos priorizando, priorizando e priorizando e quando percebemos, meio a tanta prioridade, esquecemo-nos de muitas coisas importantes.

Dizem que quando são coisas realmente importantes não chegamos nunca a esquecer. Será mesmo? Eu já acho que, normalmente, são das coisas mais importantes que deixamos de dar a devida atenção ao focar algum objetivo ou curtir uma fase da vida. Agarramo-nos à ideia de que o que é importante já tem tal classificação e pronto. Que não há a necessidade de cuidados nem nada do tipo. Além de acreditarmos na suposta compreensão alheia.

Para algumas situações, de fato, o nosso “descaso” acaba sendo irrelevante. Família, por exemplo, dificilmente te abandona porque você não a procurou durante certo tempo. Ela sempre estará lá. Contudo, há aquilo que sempre necessita de cuidados. Alguns amigos são um exemplo.

O problema maior é que o involuntário é cruel e não perdoa. Ele pode aparecer nesses momentos de priorização e nos faz perder coisas, pessoas, momentos, alegrias... Uma depreciação daquilo já conquistado. E vamos perdendo sem notar e lamentando no meio do caminho. Eu, particularmente, fico triste quando percebo que perdi a convivência com pessoas queridas e que não há nada a fazer para recuperar.

É um pouco chato pensar nisso, porém é algo que acontece na vida de qualquer pessoa. A vida é um ciclo constante de perdas e ganhos. Ao mesmo tempo em que perdemos tanto, também ganhamos tanto. E assim a vida vai seguindo seu curso.

 

"Amadurecer talvez seja descobrir que sofrer algumas perdas é inevitável, mas que não precisamos nos agarrar à dor para justificar nossa existência."

(Martha Medeiros)

 

“Que eu saiba puxar lá do fundo do baú um jeito de sorrir pros nãos da vida. Que as perdas sejam medidas em milímetros e que todo ganho não possa ser medido por fita métrica, nem contado em reais. Que as relações criadas sejam honestamente mantidas e seladas com abraços longos. Que eu possa também abrir espaço pra cultivar a todo instante as sementes do bem e da felicidade de quem não importa quem seja, ou do mal que tenha feito pra mim. Que a vida me ensine a amar cada vez mais de um jeito mais leve. Que o respeito comigo mesmo seja sempre obedecido com a paz de quem esta se encontrando e se conhecendo com um coração maior. Um encontro com a paz e o desejo de viver.”

(Caio Fernando Abreu)